baleia-piloto com cabeça fora da água
Baleia-piloto. Foto: Barney Moss/Wiki Commons

Por que estão a morrer dezenas de baleias-piloto na Nova Zelândia?

Em poucos dias, morreram quase 200 baleias-piloto na costa da Nova Zelândia, envolvidas em dois arrojamentos colectivos que levaram centenas destes animais a encalhar em terra. Os cientistas acreditam num conjunto de causas.

 

Há menos de uma semana, na última segunda-feira, tinham morrido encalhadas 145 baleias-piloto na ilha de Stewart. Esta sexta-feira, foi notícia a morte de mais 51, vítimas de um arrojamento colectivo nas ilhas Chatham, informou o Departamento de Conservação neo-zelandês.

Quando na última quinta-feira as autoridades chegaram a Hanson Bay, nas Ilhas Chatham, estavam encalhadas no local 90 baleias-piloto. Destas, 50 já tinham perdido a vida, uma outra teve de ser abatida. As restantes tinham conseguido regressar ao mar.

Estes arrojamentos colectivos não são novidade na Nova Zelândia, ‘hotspot’ para estes acontecimentos, em especial na Primavera e no Verão. O maior até hoje registado aconteceu em 1918, quando se estima que cerca de 1000 baleias-piloto morreram nas ilhas Chatham.

 

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Baleia-piloto. Foto: Barney Moss/Wiki Commons

 

Mas os cientistas ainda não conseguem apontar uma razão clara para estes comportamentos – em especial quando são feitos de forma colectiva. “O último Verão foi um Verão La Niña e é plausível que haja alguma coisa de diferente no ambiente que esteja a causar isto, mas não temos neste momento nenhuma prova directa disso”, afirmou David Lundquist, um biólogo marinho neo-zelandês, em declarações divulgadas pelo Departamento de Conservação do país.

O La Niña é um fenómeno climático, oposto ao El Niño, que está relacionado com uma descida anormal da temperatura das águas do Oceano Pacífico.

 

“Maioria dos animais saudáveis”

Em arrojamentos individuais, muitos biólogos acreditam que os animais estão doentes ou debilitados e por isso dirigem-se para terra. Mas nos arrojamentos colectivos, “a grande maioria parecem estar totalmente saudáveis”, apontou David Lundquist.

“Temos passado muito tempo ao longo dos anos, os biólogos marinhos em geral, a tentar perceber porque é que estas coisas acontecem, porque ninguém gosta delas, são muito trágicas, e nós preferimos tomar medidas para reduzir este tipo de coisas, mas não tem havido muito sucesso.”

 

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Uma parte das baleias-piloto arrojadas nas ilhas Chatham. Foto: Dep. de Conservação da Nova Zelândia

 

Os cientistas acreditam que uma combinação de factores conduz a estes acontecimentos. Quais? Podem estar a perseguir uma presa ou a fugir de um predador. Ou pode haver um mau funcionamento dos sistemas de eco-localização que põe os cetáceos desorientados, por exemplo, provocado pela falta de relevo numa zona costeira ou por barulhos subaquáticos muito altos.

“Os sonares militares são a única fonte de sons [muito elevados] que já foi directamente ligada aos arrojamentos em praias”, adiantou o mesmo responsável.

Há pistas de que actividades humanas como a pesquisa sísmica de petróleo e gás, operações de dragagem ou a utilização de bate-estacas – aparelhos usados para fixar estacas em grandes profundidades – podem também levar a estes acontecimentos, admitiu. 

O mesmo pode acontecer com fontes naturais de barulho, como relâmpagos, tremores de terra subaquáticos ou erupções vulcânicas. “Se for o animal errado no lugar errado, pode reagir de forma a acontecer isto. Há muito poucas provas disso, mas também é muito difícil recolher essas provas.”

 

Afinal são golfinhos?

As baleias-piloto são na verdade uma das maiores espécies da família dos golfinhos. São conhecidas duas espécies assim chamadas – a baleia-piloto-de-aleta-longa e a baleia-piloto-de-aleta-curta – mas são muito difíceis de distinguir entre si.

Estes mamíferos costumam andar em grupos de várias dezenas. Acredita-se que as crias nunca abandonam o grupo familiar materno em que nascem. Na altura do acasalamento, os machos podem juntar-se temporariamente a outro grupo, mas regressam à origem.

A importância da socialização para estes animais, aliás, é vista como outra das explicações possíveis para os arrojamentos colectivos. Isto porque ao verem um dos membros do grupo familiar desorientado ou doente, as restantes baleias terão tendência a segui-lo para o tentarem ajudar, acabando por encalhar em terra.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Em Portugal, também ocorrem baleias-piloto, e é mesmo possível observar com relativa frequência a baleia-piloto-de-aleta-longa (Globicephala melas).

Recorde como identificar esta e outras seis espécies de cetáceos que pode observar junto à costa portuguesa, neste artigo da Wilder.

E descubra também o que deve fazer se encontrar um animal marinho arrojado.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.