Portugal e Espanha reúnem-se em Mértola para debater conservação do coelho-bravo

Coelho-bravo. Foto: Liz Poon, CSIRO/Wiki Commons

Nos últimos 70 anos, as populações de coelho-bravo na Península Ibérica diminuíram mais de 90% por causa de mudanças no uso da terra e de doenças. De 13 a 14 de Setembro, Mértola acolhe umas jornadas onde será debatida a criação de uma estratégia ibérica para monitorizar o estado de saúde do coelho-bravo.

Rever os protocolos usados para monitorizar o estado sanitário do coelho-bravo na Península Ibérica e a criação de uma estratégia ibérica concertada são os objectivos das “Jornadas Iberconejo sobre sistemas de monitorização do estado sanitário do coelho-bravo”, organizadas no âmbito do projeto LIFE Iberconejo / LIFE Ibercoelho, lançado este ano em Portugal e Espanha.

“O coelho-bravo é endémico da Península Ibérica e espécie-chave no ecossistema mediterrânico, constituindo-se como presa para cerca de 40 espécies de predadores (como o lince ibérico ou a águia imperial) e funcionando como um “engenheiro de ecossistemas” pelo seu papel de modificador de paisagem e dispersor de sementes”, salienta a ANP-WWF, em comunicado.

“Tem também grande impacto socioeconómico como peça de caça menor e por causar danos à agricultura em determinadas zonas de Espanha e Portugal.” 

Em 2019, o coelho-bravo foi declarado como espécie Em Perigo pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), no seguimento de inquéritos populacionais realizados na última avaliação da IUCN. As doenças foram apontadas como a principal causa deste declínio.

“Há uma grande falta de conhecimento sobre a situação epidemiológica e os efeitos das doenças nas populações de coelho-bravo”, comentou Ramón Pérez de Ayala, especialista nesta espécie na WWF Espanha coordenador do LIFE Iberconejo.

“Este projcto ibérico e as questões que iremos abordar em Mértola são um passo fundamental para estabilizar as populações de coelhos e recuperar o seu papel fundamental no ecossistema, assegurando que a gestão desta importante espécie mediterrânica não tenha consequências negativas para a agricultura.”

Embora Espanha tenha um Plano Nacional de Vigilância Sanitária da Vida Selvagem que inclui lagomorfos, entre eles os coelhos, e Portugal tenha um pedido de Notificação Imediata de Mortalidade de Animais Selvagens, a ANP-WWF defende que “é necessário desenvolver uma estratégia para monitorizar o estado de saúde do coelhos-bravo à escala peninsular”.

As Jornadas Iberconejo apresentarão  o estado atual do conhecimento sobre a doença, os sistemas de monitorização de lebres e coelhos que existem em Portugal e Espanha, bem como sistemas integrados de monitorização sanitária e demográfica para outras espécies.

A conferência realiza-se a 13 e 14 de Setembro, contando com o apoio da Câmara Municipal de Mértola e da Estação Biológica de Mértola, que irão acolher nas suas instalações as administrações públicas e agentes sociais envolvidos na monitorização do estado de saúde do coelho-bravo na Península Ibérica.

No dia 13 de Setembro as apresentações serão realizadas em formato “porta aberta” para o público em geral – em regime de transmissão online das apresentações – e presencialmente para as administrações públicas, peritos externos, oradores, parceiros do projeto e organização.

A 14 de setembro, os Grupos de Trabalho reunir-se-ão para discutir propostas de vigilância sanitária coordenada a nível peninsular, sistemas de recolha de amostras e o tipo de amostras a recolher para que um número suficiente de amostras chegue ao laboratório de referência nas condições apropriadas para a sua análise. A utilização e disponibilidade de aplicações informáticas para a monitorização da situação epidemiológica das espécies será também revista.

“Espera-se, assim, resolver a falta de protocolos normalizados de monitorização do coelho-bravo, que servirão de base para definir o estado sanitário da espécie, o que por sua vez fornecerá informação essencial para a implementação das medidas de gestão mais adequadas”, segundo a organização.

As conclusões da conferência serão apresentadas ao recém-criado Comité Ibérico de Coordenação do Coelho-Bravo (ERICC), que chegará a um consenso sobre a definição dos programas de vigilância sanitária dos coelhos e as configurações finais das aplicações informáticas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.