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Portugal é um dos 50 países que prometem proteger 30% da terra e do mar até 2030

A Coligação de Alta Ambição para a Natureza e as Pessoas reúne agora 50 países, anunciou o Presidente francês esta semana em Paris. Portugal é um dos países que fazem parte da iniciativa.

O mundo natural está a desaparecer a uma velocidade sem precedentes, com cerca de um milhão de espécies de animais e plantas ameaçados de extinção.

Anfíbio, biodiversidade. Foto: Pexels/Pixabay

A França, Costa Rica e Reino Unido lançaram a Coligação de Alta Ambição para a Natureza e as Pessoas, que desafia os países do mundo a protegerem 30% da sua superfície terrestre e marinha até 2030.

Isto porque, segundo evidências científicas, uma forma de evitar a crise de extinção em massa implica a protecção de, no mínimo, 30% do planeta até 2030.

Até 8 de Janeiro deste ano, 50 países já responderam ao apelo e comprometem-se com essa percentagem, anunciou Emmanuel Macron, Presidente francês na cimeira One Planet. Entre esses países estão Portugal, Angola, Dinamarca, Equador, Finlândia, Japão, Alemanha, Grécia, México, Moçambique, Suíça, Espanha e Emirados Árabes Unidos.

“Hoje, só 7% dos oceanos estão protegidos e só 15% da superfície terrestre está protegida”, denunciou Carlos Alvarado Quesada, Presidente da Costa Rica, na cimeira One Planet, que decorreu em Paris a 11 de Janeiro.

Oceanos. Foto: Mobibit/Pixabay

“Temos uma responsabilidade que não é só para a nossa geração, mas sim para todos os cidadãos que vão nascer, e que diz respeito a toda a história e futuro da Humanidade. Esta é a única geração que alguma vez teve tamanha responsabilidade”, acrescentou.

“A Costa Rica tem orgulho em participar neste grupo (Coligação de Alta Ambição para a Natureza e as Pessoas). Não tenham medo de serem corajosos e de fazer o correcto. No meio desta crise que vivemos, hoje é o tempo de agir com bravura e proteger o nosso planeta e a Humanidade.”

Giuseppe Conti, Presidente do Conselho de Ministros da República Italiana, é da mesma opinião. “Em 2021 temos de acelerar os nossos esforços.”

Estes 50 países, de seis continentes, juntos são a casa de 28% da biodiversidade terrestre do planeta e albergam 28% das áreas prioritárias da biodiversidade dos oceanos.

O objectivo deste acordo mundial é “interromper a perda de espécies e proteger ecossistemas que são vitais para a saúde humana e a segurança económica”, segundo um comunicado da Coligação.

Os países que lançaram esta Coligação estão a trabalhar para conseguir um acordo mundial de protecção de 30% do planeta até 2030 na COP15 (Conferência das Partes) da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica que será realizada em Maio em Kunming, na China. Desta conferência sairá a estratégia mundial para a Biodiversidade para a próxima década.

“A nossa vida depende da natureza e dos ecossistemas do planeta. Precisamos urgentemente de intensificar a acção para enfrentar a crise do clima e da biodiversidade”, comentou, em comunicado, Virginijus Sinkevičius, comissário europeu para o Ambiente, Oceanos e Pescas.

“A União Europeia continuará a demonstrar grande empenho em interromper e reverter a perda da biodiversidade, a liderar pelo exemplo.”

Floresta. Foto: Anja Odenberg/Pixabay

Os seres humanos já alteraram gravemente 66% dos nossos oceanos e 75% das nossas áreas terrestres, segundo a comunidade científica. “Quando o nosso mundo natural desaparecer, não haverá como recriar o valor económico de 125 triliões de dólares que ele nos fornece todos os anos”, acrescenta o comunicado.

“A análise mais abrangente até ao momento sobre as implicações económicas da conservação da natureza constatou que os benefícios da proteção de 30% do planeta superariam os custos numa proporção de pelo menos 5 para 1.”

Além disso, um estudo recente da McKinsey concluiu que a protecção de 30% das terras e pelo menos 30% dos oceanos do planeta poderia criar até 650 mil empregos e apoiaria cerca de 30 milhões de empregos no ecoturismo e pesca sustentável.

Na cimeira One Planet em Paris, os chefes de Estado e decisores políticos presentes foram unânimes em declarar que a protecção da biodiversidade pode ser um impulsionador da recuperação económica pós-COVID-19. 

Este foi o lançamento mundial oficial da Coligação de Alta Ambição com mais de 50 países, que teve sua origem em reuniões internacionais anteriores.

Em Setembro de 2019, na 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a Costa Rica e diversos outros países anunciaram sua intenção de formar uma coligação em prol da Natureza. A ideia que serviu de base para a coligação foi lançada oficialmente na PreCOP25, realizada na Costa Rica em Outubro de 2019 pelos ministros dos países promotores Costa Rica e França e pelo país copromotor para os oceanos, Reino Unido, juntamente com a Finlândia, Gabão e Granada. Em Dezembro de 2019, a Costa Rica e a França realizaram uma reunião pioneira em Madrid, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP25), na qual os países se comprometeram formalmente com os objetivos da Coligação para a Natureza e as Pessoas.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.