Linária-dos-olivais (Linaria ricardoi). Foto: Cristina Estima Ramalho

Portugal já escolheu a sua planta do ano 2022

A linária-dos-olivais (Linaria ricardoi), planta de flores roxas que vive nos olivais tradicionais do Alentejo, foi a escolhida de entre mais de 2.800 votos nesta iniciativa da Sociedade Portuguesa de Botânica, foi hoje revelado.

A linária-dos-olivais, espécie Em Perigo de extinção segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, foi eleita a Planta do ano 2022 de Portugal com 53% dos votos, numa iniciativa que decorreu de 17 de Janeiro a 14 de Fevereiro. Nela participaram pessoas de norte a sul do país, do Continente e das Ilhas, e também do outro lado da fronteira. Alunos de dezenas de escolas também participaram.

Linária-dos-olivais (Linaria ricardoi). Foto: Cristina Estima Ramalho

Em segundo lugar ficou a soagem-gigante (Echium boissieri) e em terceiro a alcachofra-rasteira (Cynara tournefortii), que reuniram respetivamente 28% e 19% dos votos. 

Ao longo deste ano de 2022, a linária-dos-olivais será a “embaixadora dos tesouros botânicos do Alentejo aquém e além-fronteiras”, segundo um comunicado da Sociedade Portuguesa de Botânica.

Esta votação foi organizada para alertar para a situação preocupante das espécies botânicas dos olivais tradicionais do interior alentejano.

A linária-dos-olivais é uma dessas espécies que requer cuidados de conservação. Aliás, é uma espécie de conservação prioritária.

Segundo o portal FloraOn, esta espécie é um endemismo que só vive na região de Ferreira do Alentejo, Beja, Cuba e Serpa. “Embora possa ser localmente abundante em alguns locais, as alterações de uso do solo (intensificação) nesta região constituem uma séria ameaça à sua persistência”, refere este portal.

Esta planta “tem sofrido um declínio galopante”, alerta a Sociedade Portuguesa de Botânica. “Sem o roxo desta flor nos campos, Portugal ficará mais pobre.”

A linária-dos-olivais, espécie que não existe em mais lugar nenhum do mundo, é uma planta de flores roxas que cresce em searas, pousios e prados em olivais tradicionais ou montados, raramente em taludes e bermas de caminhos. Pode crescer até aos 30 centímetros.

Actualmente esta espécie terá apenas três localizações conhecidas e uma área de ocupação de apenas 208 quilómetros quadrados. Além de existir em cada vez menos locais, o seu habitat também está a perder qualidade.

“A conversão dos sistemas agrícolas tradicionais em culturas intensivas de regadio é uma ameaça direta à população desta espécie, uma vez que a sua distribuição coincide em cerca de 95% com a área de implementação do Sistema Global de Rega de Alqueva”, segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental.

“Apesar de ser uma espécie de conservação prioritária, o seu estatuto de proteção legal muito dificilmente a protegerá num futuro próximo, caso não seja implementado um plano de conservação dedicado. As medidas de conservação devem centrar-se na manutenção dos sistemas agrícolas tradicionais, através da contratualização com os proprietários dos terrenos no sentido da manutenção de parcelas de olival tradicional com núcleos da planta, e através do incentivo económico aos produtores de forma a manterem as práticas tradicionais de gestão”, consideram os autores da Lista Vermelha.

Para este ano, a Sociedade Portuguesa de Botânica vai preparar uma série de iniciativas dedicada à linária-dos-olivais, que serão conhecidas em breve.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.