Abibe. Foto: Hans Hillewaert/Wiki Commons

Portugal já tem um Atlas das Aves Invernantes e Migradoras

O primeiro Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal reúne informação sobre a abundância e distribuição de mais de 300 espécies e pode ser consultado online a partir de hoje.

 

Mais de 400 ornitólogos amadores e profissionais ajudaram a criar este Atlas, dedicado às aves que procuram a Península Ibérica para se refugiarem no Inverno e às aves que se abastecem aqui, nas suas longas viagens Norte-Sul.

No total, foram passadas 3.850 horas a contar aves selvagens, de Norte a Sul do país. Durante esse tempo foram feitos 144.500 registos de observações, traduzidos em 415 espécies.

Até agora “não havia dados que permitissem avaliar como essas espécies utilizam o território nacional”, explica, em comunicado, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).

Este Atlas pretende ser “um compêndio de informação sobre ocorrência das aves no território nacional (incluindo Açores, Madeira e Selvagens) durante o Outono e Inverno”.

Por exemplo, segundo os dados do Atlas sabemos agora que as zonas do país que albergam maior diversidade de aves no Inverno são as rias, estuários e lagoas perto da costa, desde o estuário do Minho, passando pelo estuário do Tejo até ao estuário do Guadiana.

Estes são locais de eleição para as aves aquáticas.

As aves planadoras – como as aves de rapina, as cegonhas e os grous – preferem o Sul do país, especialmente a península de Sagres e as serras algarvias.

As aves mais pequeninas, os passeriformes, dirigem-se aos matos mediterrânicos e aos olivais de Trás-os-Montes ao Algarve, como é o caso dos tordos e das toutinegras. Outras – como os abibes, lavercas e petinha-dos-prados – escolhem a lezíria do Tejo e as planícies alentejanas. Já os piscos-de-peito-ruivo, os tentilhões e os pombas-torcazes rumam aos montados, por exemplo.

E depois há o grande grupo das aves marinhas, que fazem as suas migrações sobre alto mar. Estas aves que passam na nossa costa têm diferentes padrões migratórios. “Umas ficam por águas lusas, outras estão apenas de passagem.”

A informação pode ser consultada gratuitamente, online, tanto por investigadores e conservacionistas como pelos amantes e observadores de aves.

Os dados foram recolhidos através de visitas sistemáticas – que cobriram três quartos do território nacional -, observações não sistemáticas, anilhagem e através de outros censos e monitorizações e plataformas de registo de espécies, como o Biodiversity4all e o eBird.

O trabalho de campo decorreu em apenas dois anos (2013 e 2014), durante dois períodos: o Inverno (de 15 de Novembro a 15 de Fevereiro) e a migração pós-nupcial (de 1 de Agosto a 15 de Outubro).

Mas “este primeiro retrato global das aves que visitam o país nos meses mais frios é apenas um ponto de partida”, sublinha a Spea. “Estudos futuros poderão comparar dados com estes e assim aferir como as espécies estão a reagir às alterações climáticas, a diferentes políticas agrícolas e a projetos de conservação.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Pode consultar o Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal aqui.

O Atlas das Aves Invernantes e Migradoras de Portugal foi produzido pelos parceiros: Spea, LabOr- Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, Secretaria Regional da Energia, Ambiente e Turismo (Açores), e Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.