Portugueses fascinados por aves juntaram-se e publicaram um livro para nós

Simples admiradores de aves, como estudantes ou donas de casa, mas também ornitólogos profissionais juntaram-se para publicar o livro de fotografia “Aves de Portugal Continental”. Esta iniciativa de cidadãos quer ajudar-nos a conhecer melhor 273 espécies da nossa avifauna.

 

As aves surgem por ordem alfabética. Abetouro, abibe, abutre-do-egipto, abutre-preto. Depois as águias. A letra B começa com o bico-de-lacre; a C tem a codorniz e o cuco-rabilongo. Para cada ave, uma fotografia e uma legenda que conta mais sobre ela. São ao todo 273 espécies que vivem ou passam temporadas em Portugal e que são fáceis de observar (umas mais que outras). As raridades ficaram de fora.

Podemos ver estas aves todos os dias no grupo da rede social Facebook “Aves de Portugal Continental”, nas fotografias que são partilhadas por quem anda à procura delas no campo ou na cidade. À data deste artigo, eram 12.805 os membros.

Esta semana foi lançado o livro com o mesmo nome do grupo, “Aves de Portugal Continental”, um projecto coordenado por José Frade, um dos gestores do grupo no Facebook.

“Tentámos criar um guia para as aves nacionais”, feito a pensar em quem se está a iniciar na observação e fotografia de aves, usando as fotografias de 65 membros do grupo, contou à Wilder, José Frade.

 

Maçarico-de-bico-direito. Foto: Armando Caldas
Maçarico-de-bico-direito. Foto: Armando Caldas

 

A ideia do livro foi proposta ao Armando Caldas – fundador do grupo, criado em Abril de 2012 – pela editora Mindaffair. “O Armando perguntou-me se estava interessado em pegar neste projecto.” E José aceitou.

Este é um livro de fotografia, com 132 páginas, que quer ser mais que isso. “Considero que este é um guia fotográfico de aves pois, além de excelentes fotografias, conta também com uma pequena descrição de cada ave realizadas pelo Gonçalo Elias (responsável pelo portal Aves de Portugal). Não substitui um bom guia mas complementa-o.”

Os autores consideram que este é um guia “imprescindível das aves existentes no nosso país”. “Em Portugal não existe um guia fotográfico de aves. Existem vários guias mas nenhum com fotografias (…). Para quem começa agora, identificar aves através de fotografias é mais fácil”, explicou.

A selecção das fotografias para o livro demorou alguns meses. “Primeiro perguntámos aos membros do grupo se gostavam de contribuir e 92 membros aderiram à ideia”, contou José Frade. “Depois foi feita a escolha, uma foto por ave, tendo o cuidado de tentar incluir o maior numero de membros e foi essa escolha que me deu as maiores dores de cabeça.”

As fotografias foram escolhidas de forma a ajudarem na identificação da espécie. “O mais importante era colocar uma foto que identificasse essa mesma espécie e sempre que possível no seu habitat.”

 

Redes Sociais e natureza

 

De entre milhares de imagens para escolher, há umas que José Frade sempre soube que teriam de estar no livro. “Há fotografias que nos ficam na memória, como por exemplo a fotografia da capa do Francisco Bernardo, a foto da contra-capa do Armando Caldas, a do Gavião, do Tomás Martins, ou mesmo a minha dos pilritos-das-praias em voo”.

 

Pilritos-das-praias. Foto: José Frade
Pilritos-das-praias. Foto: José Frade

 

Mas o livro não tem apenas fotografias. Há um capítulo com uma breve história da fotografia analógica de aves selvagens em Portugal, de Nuno Gomes Oliveira, director do Parque Biológico de Gaia; textos explicativos de cada ave escritos por Gonçalo Elias e uma pequena história do grupo do Facebook, feita por Armando Caldas.

As Redes Sociais mudaram a forma como aprendemos sobre o mundo natural. Enquanto administrador do grupo Aves de Portugal Continental, José Frade acredita que as Redes Sociais podem “ter muita importância, não só na aproximação das pessoas ao mundo natural, como também na inclusão dessas mesmas pessoas na ajuda da sua conservação”. O responsável lembrou o contributo que os membros do grupo deram no censo da águia-pesqueira (em Janeiro de 2015), ou na alteração da data para a prova de motonáutica que iria decorrer no rio Tejo na altura da nidificação das aves. “O nosso grupo é utilizado por professores do ensino primário para mostrar às crianças as nossas aves”, lembrou.

Actualmente, o conhecimento sobre as aves “está a aumentar”. José Frade quer acreditar que o grupo tem contribuído. “Hoje somos quase 13.000 membros e desses, a grande maioria entrou para saber mais. Estou em crer que a maioria já adquiriu alguns conhecimentos que não tinha, ou seja, são quase 13.000 pessoas a saber mais um pouco sobre aves de Portugal.”

 

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AVES DE PORTUGAL CONTINENTAL

Vários autores

Mindaffair

Preço: 28 euros (mais portes de envio fica em 33 euros)

Data de publicação: 15 de Dezembro de 2015

O livro está à venda apenas pela Internet, com pedidos feitos a José Frade ([email protected]). A tiragem está dependente dos pedidos.

O livro prevê três lançamentos: no Porto a dia 15; no Hotel Solplay, em Linda-a-Velha no dia 19, às 18h00, e outro em Tomar, em Janeiro, numa data a anunciar.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.