Portugueses já escolheram a Ave do Ano 2021

É pequena mas intrépida, tem uma resiliência impressionante e só nidifica nos Açores. Saiba qual é a Ave do Ano 2021 escolhida pelos portugueses amantes de aves.

Todos os anos, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) organiza a votação para a Ave do Ano para chamar a atenção para uma espécie em particular.

Este ano, o painho-de-monteiro (Hydrobates monteiroi) conseguiu 80% dos 1.580 votos recebidos numa votação online que decorreu de 14 de Janeiro a 4 de Fevereiro. A outra ave “concorrente” era a gaivota-de-audouin.

“Esta pequena ave tem uma resiliência impressionante: chega a viver mais de 20 anos, a maior parte do tempo no mar”, disse, em comunicado, Azucena de la Cruz Martín, Coordenadora da SPEA Açores. “Estamos a falar de uma avezinha de 50 gramas que resiste  às tempestades que assolam o Atlântico, ano após ano.”

Foto: siaram.azores.gov.pt

Ao longo de 2021, a SPEA vai celebrar esta pequena mas intrépida ave que apenas nidifica no arquipélago dos Açores e alertar para os perigos que correm as aves marinhas (o grupo de aves mais ameaçado do mundo).

Esta espécie apenas existe nos Açores e só nidifica em alguns pequenos ilhéus junto às ilhas da Graciosa, das Flores e possivelmente do Corvo.

“Assim, está muito vulnerável a qualquer ameaça a estas colónias, como a chegada de ratos e outros predadores que não ocorrem naturalmente nestes ilhéus”, explica a SPEA. Entre estes predadores exóticos que podem pôr a espécie em perigo encontra-se a lagartixa-da-madeira, que tem sido observada a alimentar-se de crias de painho-de-monteiro.

Também no mar as aves marinhas enfrentam ameaças muito sérias, como a captura acidental em artes de pesca, a poluição luminosa e o lixo marinho.

Para ajudar a proteger esta espécie, a SPEA, com o apoio de vários parceiros nacionais e internacionais, lançou em 2018 o Plano de Ação Internacional para a Conservação do painho-de-monteiro com as prioridades de conservação para a espécie.

Foto: Tânia Pipa/SPEA

Estas acções prioritárias, que estão a ser implementadas na Graciosa através do projecto LIFE IP AZORES NATURA, incluem a recuperação de habitat, a implementação de planos de biossegurança, a avaliação do impacto de predadores introduzidos e a monitorização do estado das populações da espécie.

O nome desta espécie é uma homenagem ao biólogo Luís Monteiro, que nos anos 90 demonstrou que esta deveria ser considerada uma espécie à parte, e não uma variante do roque-de-castro (ou painho-da-madeira).

“A mais pequena ave marinha dos Açores, o painho-de-monteiro é, de facto, muito parecido com o roque-de-castro: é todo preto à exceção da mancha branca na base da cauda. Tem a cauda ligeiramente mais bifurcada, mas só os observadores experientes conseguem detetar essa diferença”, segundo a SPEA.

Uma outra particularidade da Ave do Ano 2021 é que se reproduz no Verão, enquanto o roque-de-castro se reproduz no Inverno.

“Faz o ninho em cavidades, muitas vezes em escarpas de difícil acesso para quem não tem asas, pelo que os técnicos da SPEA estão a recorrer ao som para estimar quantos painhos fazem o ninho em cada colónia.”

No projecto LIFE4BEST Seabirds Macaronesian Sound, os investigadores da SPEA usam os sons produzidos pelas aves para determinar quantas são e onde estão.  O som é, aliás, outra característica utilizada pelos especialistas para identificar esta espécie: as vocalizações do painho-de-monteiro têm menos uma sílaba do que as do seu “primo” roque-de-castro.


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Com a ajuda das ilustrações de Marco Nunes Correia, poderá identificar as aves mais comuns nos jardins portugueses. O calendário Wilder de 2021 tem assinalados os dias mais importantes para a natureza e biodiversidade, em Portugal e no mundo. É impresso na vila da Benedita, no centro do país, em papel reciclado.

Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

O calendário pode ser encomendado aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.