Pradarias marinhas de posidónia podem captar e extrair lixos plásticos nos oceanos

As pradarias de Posidonia oceanica, uma planta marinha endémica do Mediterrâneo, podem captar lixos plásticos que vão parar ao mar e devolvê-los a terra firme, revela um novo estudo.

Assim o constata um artigo publicado a 14 de Janeiro na revista Scientific Reports, cuja principal autora é Anna Sànchez-Vidal, da Faculdade de Ciencias de la Tierra da Universidade de Barcelona.

O trabalho descreve pela primeira vez o papel da posidónia como filtro e armadilha para o lixo plástico na zona costeira e é pioneiro na descrição de um mecanismo natural para capturar e eliminar o lixo no oceano.

Posidonia oceanica. Foto: Nano Sanchez/WikiCommons

Posidonia oceanica forma densas pradarias, um habitat de grande valor ecológico (alimentação, refúgio, etc) para a biodiversidade marinha. 

No âmbito deste estudo, a equipa de investigadores analisou a captura e extracção de plásticos nas extensas pradarias de posidónia na ilha de Mallorca.

“Tudo indica que os plásticos ficam presos nas posidónias. Nessas pradarias, os plásticos são incorporados a uns aglomerados de fibras naturais em forma de bola – as egagrópilas ou bolas de Neptuno da posidónia – que são expelidas do meio marinho durante as tempestades”, explica, em comunicado, Anna Sànchez-Vidal. Uma parte acaba depositada nas praias.

Foto: Universidade de Barcelona

“Os microplásticos presos nas pradarias de P. oceanica são maioritariamente filamentos, fibras e fragmentos de polímeros mais densos que a água do mar, como o polietileno teraftalato (PET).”

Os autores do artigo encontraram até 1.470 itens de plásticos por quilograma de plantas marinhas.

Anna Sànchez-Vidal sublinhou que “as primeiras estimativas revelam que as bolas de posidónia poderão chegar a captar na ordem dos 867 milhões de plásticos por ano”.

O plástico que encontramos a flutuar nos oceanos “é apenas uma pequena percentagem de todo o plástico que vertemos no meio marinho”, alerta a investigadora.

“É preciso proteger e conservar estes ecossistemas tão vulneráveis”, escrevem os autores do artigo. A melhor estratégia de protecção ambiental para manter os oceanos livres de plásticos é, segundo os investigadores, “limitar drasticamente o seu uso por parte da população”.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.