Tartaruga-de-couro. Foto: Bernard Dupont/Wiki Commons

Praias desertas na Tailândia atraem tartarugas raras

A Tailândia registou o maior número de ninhos das raras tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea), em 20 anos nas praias livres de turistas por causa da pandemia, revelaram ambientalistas.

 

Desde javalis a patrulhar as ruas da cidade israelita de Haifa, aos veados que se aventuram nos subúrbios de Londres, o confinamento social ditado pelo Covid-19 está a atrair a vida selvagem às ruas vazias de muitas cidades.

Na Tailândia, país que regista até ao momento 2.765 infectados e 47 mortes, os voos internacionais estão suspensos e os cidadãos são aconselhados a ficarem em casa. Mas se medidas como estas trouxeram o colapso do número de turistas, também libertaram as praias para a vida selvagem.

Os 11 ninhos de tartarugas que as autoridades encontraram desde Novembro é o número mais elevado dos últimos 20 anos, disse Kongkiat Kittiwatanawong, o director do Phuket Marine Biological Center, à agência de notícias Reuters.

“Este é um sinal muito bom para nós porque muitas áreas para as tartarugas porem os ovos têm sido destruídas pelos humanos”, disse o responsável à Reuters. Não tinha sido encontrado nenhum destes ninhos nos últimos cinco anos.

As tartarugas enfrentam vários perigos, desde o serem apanhadas em redes de pesca à perturbação das praias pelos humanos.

A tartaruga-de-couro é a maior tartaruga marinha do planeta. É uma espécie considerada ameaçada na Tailândia e está classificada como Vulnerável na Lista Vermelha da União Internacional da Conservação da Natureza (UICN),

Estas tartarugas marinhas põem os seus ovos em áreas tranquilas, muito escassas quando os turistas invadem as praias. Também há quem escave os ninhos e roube os ovos.

No final de Março, os técnicos de um parque nacional tailandês na província de Phanga Nga encontraram 84 tartarugas bebés, depois de monitorizarem os ovos durante dois meses.

Um exemplo da importância da tartaruga-de-couro nos ecossistemas marinhos é o seu consumo especializado em medusas tóxicas, actuando como um controlo biológico muito eficaz. O desaparecimento destas tartarugas poderia ter efeitos devastadores no impacto de proliferações massivas de medusas tóxicas, acreditam os especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.