Prepare-se para o próximo ano de conservação do lince-ibérico

Saiba o que está a ser preparado para 2016 e quais os três principais desafios que dezenas de peritos em Portugal e Espanha vão tentar ultrapassar. Falámos com Miguel Ángel Simon, director do projecto Iberlince (que termina em Dezembro de 2017), para não perder nada.

 

A conservação do lince-ibérico (Lynx pardinus) faz-se com muitos animais e, sobretudo, muitas pessoas. Desde Outubro que os responsáveis pela conservação do lince a nível ibérico preparam os trabalhos para o próximo ano, tanto nos centros de reprodução em cativeiro – que vão reforçar o seu papel na preparação das crias para serem devolvidas à natureza -, como na natureza, mais concretamente nas áreas seleccionadas para a reintrodução. Este é um pequeno guia para o ajudar a navegar pelas novidades de 2016.

 

LINCES A LIBERTAR:

Para o próximo ano serão libertados na natureza um total de 48 linces, 45 dos quais nascidos em 2015 em quatro centros de reprodução em cativeiro em Portugal e Espanha: em Silves, em El Acebuche (Huelva), Zarza de Granadilla (Cáceres) e La Olivilla (Jaén), disse Miguel Ángel Simon. Os restantes três linces são provenientes da população da Serra Morena, em Espanha.

 

ÁREAS DE REINTRODUÇÃO ESCOLHIDAS:

Os 48 linces serão libertados em sete regiões: nove no Vale do Guadiana (seis fêmeas e três machos), nove no Vale de Matachel (Badajoz), 10 nos Montes de Toledo (Toledo), nove na Serra Morena Oriental (Ciudad Real), cinco em Guadalmellato, cinco em Guarrizas e um como reforço genético das populações em Doñana.

 

QUANDO:

A libertações vão decorrer de Janeiro a Abril.

 

TRÊS GRANDES DESAFIOS PARA 2016:

Para Miguel Ángel Simon, os trabalhos do Iberlince para o próximo ano vão concentrar-se em três grandes objectivos: “assegurar a sobrevivência dos exemplares libertados em todas as áreas de reintrodução; estabelecer os linces como territoriais, idealmente com reprodução; e interligar as áreas de reintrodução com as áreas de presença de lince na Península Ibérica”. “Isto já está a ser conseguido em Guadalemellato-Cardeña-Andujar-Guarrizas-Serra Morena Oriental”, acrescentou.

 

QUANTOS LINCES EXISTEM EM LIBERDADE:

Os resultados do censo do lince-ibérico de 2015 só são esperados para Fevereiro do próximo ano. Mas, de acordo com o censo mais actualizado, existiam em 2014 em liberdade 327 linces nas quatro populações da Andaluzia. A maior continuava a ser a de Andújar-Cardeña (com 161 linces), seguida de Doñana (com 80), Guadalmellato (45) e Guarrizas (41). Estas duas últimas são as populações mais recentes, com reintroduções que começaram em 2010 e 2011, respectivamente.

Para o Vale do Guadiana – assim como para Hornachos-Vale del Matachel e para Campo de Calatrava e Montes de Toledo – ainda não se podem considerar existirem populações propriamente ditas, uma vez que as reintroduções só começaram em 2014. Ainda assim, sabe-se que existem nove linces no Vale do Guadiana, dez no Vale de Matachel e oito em Montes de Toledo. Na Serra Morena Oriental estima-se existirem sete linces.

 

QUANTOS LINCES SE SABEM ESTAR EM PORTUGAL:

As equipas no terreno acompanham nove linces libertados em 2014/2015 no Vale do Guadiana: Katmandu, Jacarandá, Kempo, Loro, Liberdade, Lluvia, Lagunilla, Luso e Lítio. Entretanto, outros dois linces estarão em Portugal, vindos de Espanha: Kahn e Kentaro.

 

O QUE ESTÃO A FAZER NESTA ÉPOCA DO ANO:

Normalmente, os linces começam a procurar parceiros a partir de Dezembro. As cópulas podem ocorrer até Janeiro e as crias começam a nascer a partir de Março.

 

AS MAIORES AMEAÇAS AO LINCE:

Para Miguel Ángel Simon, os maiores desafios da conservação do lince-ibérico para um futuro próximo são o controlo das doenças do coelho-bravo (a principal presa do lince) e o controlo das mortes por atropelamento, caça furtiva e veneno.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.