Primeiras fotografias profissionais de pantera negra em África em 100 anos

As imagens foram captadas pelo fotógrafo britânico de vida selvagem Will Burrard-Lucas, no Laikipia Wilderness Camp, no Quénia.

 

A pantera negra é um animal extremamente raro. É uma variante icónica do leopardo (Panthera pardus): o seu pelo negro como resultado de uma mutação chamada melanismo, o oposto do albinismo, é associado a uma mutação de um gene que causa a perda da sua função normal. Assim, o pelo do animal parece completamente negro durante o dia mas à noite, através de infravermelhos, podem ver-se os característicos padrões do leopardo.

As primeiras fotografias profissionais de uma pantera negra em África, divulgadas nesta segunda-feira, foram captadas por Burrard-Lucas, através de foto-armadilhagem no Laikipia Wilderness Camp, no Quénia. Laikipia é uma região com 8.700 quilómetros quadrados no Centro do Quénia.

Burrard-Lucas falou com pessoas da região que já tinham visto panteras negras e seguiu os vestígios destes animais. Depois montou várias câmaras de fotoarmadilhagem com sensores de movimento, na esperança de conseguir fotografar os animais à noite.

Depois de vários dias sem sucesso, Burrard-Lucas regressou às suas câmaras para encontrar uma imagem impressionante.

“Deixei as câmaras por várias noites. Quando regressei e vi as imagens só havia fotografias de hienas mas não de panteras”, escreveu no seu blog. “Quando dava uma olhadela rápida pela última câmara, não esperava encontrar grande coisa. Ao passar as imagens no visor da câmara, parei e fiquei a olhar para a fotografia sem compreender o que estava a ver… um par de olhos rodeados de escuridão… uma pantera negra! Não queria acreditar e levei alguns dias até reconhecer que tinha alcançado o meu sonho”, escreve no seu blog.

Nos dias seguintes, Burrard-Lucas deslocou algumas das câmaras para outros locais, de forma a acompanharem melhor os movimentos das panteras-negras. E conseguiu mais fotografias. “Em todas as fotografias que tirei, foram os olhos da pantera que me impressionaram mais.”

 

 

Desde criança que Burrard-Lucas é fascinado pelas histórias de panteras negras. “Para mim, não há animal mais misterioso, mais esquivo e mais bonito (…). Ninguém que eu conheço viu um em estado selvagem e nunca esperei que eu o conseguisse. Mas isso não me impediu de sonhar…”

Nicholas Pilfold, do Instituto para a Investigação em Conservação no Zoo de San Diego, escreveu um artigo na revista African Journal of Ecology sobre a prova fotográfica captada por Burrard-Lucas e sobre imagens de vídeo conseguidas por câmaras instaladas pelo Zoo de San Diego na região, de Fevereiro e Abril de 2018.

Segundo Pilfold, têm havido avistamentos de pantera negra em África há mais de um século mas apenas um está confirmado com fotografia, em 1909, em Addis Abeba, Etiópia. Esta fotografia está guardada no Museu Nacional de História Natural dos Estados Unidos. Na verdade, a maioria das observações de panteras negras são, principalmente, no Sudeste Asiático.

“As panteras negras não são comuns. Em todo o mundo, apenas 11% das panteras são negras. Mas panteras negras em África são extremamente raras”, escreveu o biólogo. De momento, este é o único local em África com confirmação deste raro animal.

As câmaras de vídeo dos investigadores do Zoo de San Diego revelaram uma fêmea subadulta.

 

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No artigo científico é publicada a confirmação de que as panteras negras vivem na região de Laikipia. “É certo que as panteras negras sempre lá estiveram, mas até agora não havia boas imagens que o pudessem confirmar”.

O Zoo de San Diego está a trabalhar com parceiros locais – como a Loisaba Conservancy, o Mpala Research Centre, o Kenya Wildlife Service, o governo regional de Laikipia e a organização The Nature Conservancy— num projecto para monitorizar e estudar as populações de leopardos na região. O objectivo é conservar a espécie e o seu habitat.

Os leopardos africanos estão classificados com estatuto de Vulnerável na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). A perda e fragmentação do habitat, competição por presas, conflitos com agricultores e criadores de gado e caça têm reduzido o número de leopardos por todo o continente africano. Apesar disso, não se conhece a escala do declínio populacional.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.