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Mar agitado, mas a fotografia não capta de modo algum a violência do vento e o tamanho da ondulação. Foto: Paulo Catry

Primeiros dias no Atlântico: entre papagaios-do-mar, grandes baleias e peixes-lua

Paulo Catry está embarcado numa expedição científica de 15 investigadores, que durante um mês vai estudar a importância de uma zona específica do Atlântico Norte para aves, baleias, golfinhos e tartarugas. Esta é a primeira das crónicas que o investigador do MARE-ISPA vai publicar na Wilder, escritas a bordo do navio oceanográfico RSS Discovery, em mar alto.

 

6 de Junho 2017 – Partir de Southampton, no sul de Inglaterra, sempre tem uma certa carga simbólica. Porto histórico, início de múltiplas aventuras, desastres e frotas famosas.

 

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Partida de Southampton, a bordo do RSS Discovery

 

Lembre-se o trágico Titanic, que daqui saiu na sua primeira viagem, ou as frotas de apoio na mais recente guerra das Malvinas, que merecem placas comemorativas bem no centro da cidade.

Navegamos primeiro pelo imenso estuário do Solent, onde tantos gansos do Ártico vêm passar os invernos, e logo de seguida pelo canal de Inglaterra, que separa este país da costa francesa.

 

9 de Junho 2017 – Vento forte de proa, desde o primeiro momento, já há mais de 72 horas. Por vezes a chegar a 8, na escala de Beaufort. Vagas imensas.

 

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Mar agitado, mas a fotografia não capta de modo algum a violência do vento e o tamanho da ondulação. Foto: Paulo Catry

 

Junto à costa viram-se papagaios-do-mar (Fratercula arctica) e airos (Uria aalge). Depois, durante 48 horas, sobretudo alcatrazes (Morus bassanus) e pombaletes ou fulmares (Fulmarus glacialis).

 

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Papagaio-do-mar (Fratercula arctica). Foto: Jörg Hempel/Wiki Commons

 

Após de 2 dias sobre a plataforma continental, o fundo passou abruptamente de 200 para 2000 metros e depois mais suavemente até aos 4000m.

As aves da plataforma foram substituídas por outras mais oceânicas. Cagarras (Calonectris borealis), sobretudo. Aqui e ali vão-se vendo grandes baleias, rorquais-comuns (Balaenoptera physalus), representando a segunda espécie animal mais corpulenta do planeta (a seguir à baleia-azul).

 

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Baleia rorqual-comum (Balaenoptera_physalus). Foto: Cephas/Wiki Commons

 

Estamos agora cerca de 400km a noroeste de la Coruña, na Galiza. Mar alteroso, imenso, dois dias sem ver uma única embarcação. Mas cagarras sim, apesar de estarmos ainda tão longe dos seus sítios de reprodução nos Açores ou na Madeira.

 

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Cagarras (Calonectris borealis). Foto: Frank Vincentz

 

Os primeiros dias foram passados a organizar diversos materiais e equipamentos a bordo. Também a afinar as técnicas de contagens de aves, para que todos usem a mesma metodologia. Somos 15 investigadores na expedição, incluindo 6 ornitólogos com experiências e formação variadas. Há também vários especialistas em mamíferos marinhos, em cefalópodes, e oceanógrafos físicos e químicos.

 

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Colocação no mar de um dispositivo oceanográfico de recolha de amostras de água abaixo da superfície. Foto: Paulo Catry

 

Há nacionalidades muito diversas entre os investigadores, apesar do pequeno grupo: inglesa, escocesa, canadiana, australiana, brasileira, colombiana, russa, koweitiana e portuguesa. A tripulação do navio conta com mais duas dezenas de pessoas.

Uma das observações mais engraçadas, por ter sido feita de muito perto, em excelentes condições, foi a de alguns peixes-lua (Mola mola), nadando deitados junto à superfície, com as barbatanas a furarem as ondas.

 

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Peixe lua (Mola mola). Foto: Pline/Wiki Commons

 

Um dos peixes-lua era um adulto enorme, desta espécie que é a que atinge os maiores pesos corporais de todos os peixes ósseos atualmente existentes.

 

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Saiba mais.

Leia aqui sobre a expedição científica de Paulo Catry e conheça um pequeno perfil deste investigador.