Marta. Foto: Th G/Pixabay

Projecto liberta 18 martas em floresta inglesa para travar extinção deste carnívoro

Outrora comuns em Inglaterra, as martas (Martes martes) são hoje um dos mamíferos mais ameaçados daquele país. Várias organizações juntaram-se para trazê-las de volta.

Em Agosto e Setembro deste ano, 18 martas foram capturadas perto de Inverness, na Escócia, e libertadas na Floresta de Dean, em Gloucestershire, numa localização remota e não tornada pública, foi revelado ontem.

Os conservacionistas esperam que estes animais se reproduzam, se espalhem e eventualmente se liguem a um grupo de 51 martas que foi reintroduzido no País de Gales entre 2015 e 2017.

A marta já foi comum no Reino Unido e Irlanda. Mas nos últimos 200 anos tem vindo a desaparecer por causa da perda de habitat, caça e controlo de predadores. O seu único bastião são as terras altas da Escócia.

Estima-se que restem apenas 20 martas em Inglaterra.

Marta. Foto: Huhu Uet/WikiCommons

Trazer esta espécie icónica de volta é o grande objectivo de um projecto que juntou a Forestry England, o Gloucestershire Wildlife Trust, o Vincent Wildlife Trust e a Forest Research.

As martas são da mesma família que as lontras e as doninhas. Têm um tamanho semelhante ao de um gato doméstico, um corpo esguio, pêlo castanho e uma mancha creme na garganta. A cauda é comprida e felpuda.

Rebecca Wilson, da Forestry England, disse à BBC News que as martas têm um papel importante no “delicado equilíbrio” do ecossistema florestal. Este mamífero alimenta-se de frutos, fungos e de vários animais, incluindo o esquilo-cinzento (Sciurus carolinensis), uma espécie exótica que tem tido um grande impacto nas florestas por toda a Inglaterra. Os conservacionistas acreditam que uma redução dos esquilos-cinzentos vai ajudar a preservar as florestas antigas inglesas.

Catherine McNicol, do Gloucestershire Wildlife Trust, espera que este projecto dê à marta “a ajuda de que precisa para se tornar resiliente e prosperar”.

Para acompanhar a adaptação dos 18 animais libertados na natureza, a cada um foi colocado um colar transmissor que permite seguir os seus movimentos. A Forestry England vai trabalhar com voluntários, comunidades locais e organizações parceiras para monitorizar como é que os animais se estão a adaptar à floresta.

Marta. Foto: Hebi B./Pixabay

As organizações esperam que nos próximos dois anos mais martas sejam reintroduzidas no mesmo local.

Em 2018, o Plano Ambiental do Governo britânico para os próximos 25 anos declarou a reintrodução de espécies nativas como as lontras e os toirões como “crucial” para a recuperação da natureza. A marta é uma das 18 espécies de mamíferos terrestres mais ameaçados do Reino Unido. 

“A marta não é só uma parte carismática e atractiva da fauna britânica, mas também um predador das florestas que tem um papel importante nas dinâmicas naturais dos ecossistemas florestais”, segundo o Gloucestershire Wildlife Trust.

“Estamos numa emergência de biodiversidade e conservar a vida selvagem que resta não é suficiente. Precisamos de agir para ajudar a recuperação da natureza”, comentou Gareth Parry, director de conservação do Gloucestershire Wildlife Trust, citado pelo jornal The Guardian.


Saiba mais.

Em Portugal não se conhece qual o tamanho populacional da marta. Por isso, o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005) classifica a espécie como DD (Informação Insuficiente).

Ainda que a tendência populacional seja desconhecida, “localmente a espécie poderá estar a declinar”.

“A conservação da espécie beneficiará de todas as medidas que favoreçam o seu habitat, nomeadamente estratégias de renovação da floresta utilizando espécies florestais autóctones”, aconselha o Livro Vermelho português.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.