pequenas flores laranja num prado
Foto: Joana Bourgard

Quase 4.000 plantas e fungos nasceram para a ciência em 2019

Os cientistas descreveram 1.942 plantas e 1.886 fungos pela primeira vez para a ciência ao longo do ano passado, revela o relatório anual dos Kew Royal Botanic Gardens, divulgado esta quarta-feira.

Nesta quarta edição do relatório anual “State of the World’s Plants and Fungi”, coordenado pelos Kew Gardens, do Reino Unido, colaboraram 210 investigadores de 97 instituições, em 42 países.

Mas apesar de terem sido registadas quase 4.000 espécies de plantas e de fungos, um pouco por todo o mundo, esta boa notícia é contrabalançada por um aviso dos autores do documento: “Muitas vezes, quando uma nova espécie acabou de ser descrita e nomeada, já está a enfrentar a sua extinção.”

“Isto significa que espécies que poderiam ser valiosas como comida, medicamentos ou fibras – ou com um papel importante nos ecossistemas, como ajudar na circulação de nutrientes – estão a desaparecer antes de termos tido sequer hipótese de explorar as suas características”, afirmam.

Os cientistas enfrentam assim uma corrida contra o tempo, na qual à descoberta de novas espécies juntam o conhecimento sobre as suas qualidades e usos possíveis.

Sabem também que há ainda muitas espécies por descrever, ao contrário do que se acreditava há 10 anos, quando os investigadores “pensavam que a vasta maioria das plantas com flor já tinham sido descritas e nomeadas”. Contas feitas, a Checklist Mundial de Plantas Vasculares tem registos de 350.000 espécies, incluindo 325.000 plantas com flor.

No que respeita aos fungos, “há ainda mais por catalogar”, reconhece o mesmo relatório. Até hoje foram identificadas 148.000 fungos diferentes, mas “os cientistas acreditam que mais de 90% das espécies permanecem desconhecidas para a ciência”. Ao todo, estima-se que existem 2,2 a 3,8 milhões de espécies na Terra.

Quanto aos países onde mais novas espécies de plantas têm sido reveladas, o Brasil mantém-se em primeiro lugar desde 2016. No ano passado, foram descritas 216 novas espécies para o território brasileiro, seguido pela China (195) e pela Colômbia (121).

Já a grande maioria dos novos fungos foram encontrados na Ásia (41%) e na Europa (23%).

Duas em cada cinco plantas ameaçadas de extinção

O documento divulgado esta quarta-feira calcula também que actualmente duas em cada cinco espécies de plantas no mundo estão em risco de extinção

Os autores do documento salientam a importância da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, que avalia o risco de extinção das espécies e assim ajuda a decidir as políticas de conservação. No entanto, sublinham, embora a Lista Vermelha seja a fonte mais abrangente sobre o risco mundial de extinção, apenas 10% das plantas estão para já representadas. Quanto aos fungos a situação é ainda pior, com apenas 0,2% do total de espécies ali avaliadas, ou seja, 285 das 148.000 que são hoje conhecidas.

Assim, face à falta de informação, os investigadores recorreram a técnicas de estatística e a inteligência artificial para calcularem a situação das planas a nível mundial, com base nos dados de que dispõem.

“Temos agora métodos de inteligência artificial que são fidedignos em cerca de 90%”, afirmou Eimear Nic Lughadha, investigador dos Kew Gardens. “Isso é suficientemente bom para dizermos: ‘esta área tem muitas espécies que ainda não foram avaliadas mas que estão quase de certeza ameaçadas.”

Investigadora da Universidade de Coimbra participou

Entre os cientistas que colaboraram no relatório deste ano, incluiu-se uma investigadora da Universidade de Coimbra, Susana C. Gonçalves, que participou em dois capítulos: um sobre a importância das colaborações para assegurar um futuro sustentável para todos e outro que avalia o risco de extinção de plantas e fungos.

“Se quisermos trazer a conservação dos fungos para o primeiro plano, temos de desmistificar conceitos errados que persistem em toda a sociedade, por exemplo, os fungos ainda são muitas vezes confundidos com plantas ou retratados erroneamente como inimigos, e precisamos de desafiar a indiferença em relação aos fungos”, afirma a investigadora portuguesa, citada num comunicado da Universidade de Coimbra. “Em última análise, só nos preocupamos em proteger o que amamos.” 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.