Quase dois terços das espécies das fontes hidrotermais de profundidade estão em risco de extinção

Um total de 184 espécies que vivem junto a fontes hidrotermais de profundidade foram adicionadas agora à Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Investigadores pedem protecção urgente para evitar a sua extinção.

A Lista Vermelha da UICN foi recentemente actualizada e tem agora um total de 142.577 espécies de animais, plantas e fungos selvagens de todo o mundo. Mas destas, menos de 15% são espécies marinhas e quase nenhumas dos mares profundos.

“O fundo do mar é o maior ambiente da Terra com milhares de espécies únicas que vivem em habitats extremos”, salienta a Queen’s University Belfast, universidade pública da Irlanda do Norte, em comunicado. “A inacessibilidade desses habitats significa que, muitas vezes, são menos estudados, o que torna difícil compreender e comunicar as suas necessidades de conservação.”

Fontes hidrotermais na Antárctida captadas por ROV. Foto: MARUM, Universidade de Bremen

As fontes hidrotermais são apenas um desses ecossistemas únicos de profundidade. Elas albergam uma densidade de vida semelhante às florestas tropicais ou aos recifes de coral, recordam os investigadores daquela universidade.

Existem cerca de 600 destes hotspots conhecidos em todo o mundo e a maioria é um terço de um campo de futebol. As comunidades que vivem junto às fontes hidrotermais são muito diferentes daquelas que vivem no fundo do mar em seu redor, comportando-se assim como ilhas.

Uma equipa da universidade irlandesa estudou esta diversidade de espécies. “Quisemos olhar para estas espécies, uma vez que essas áreas estão a ser cada vez mais procuradas industrialmente por causa dos seus recursos naturais”, explicou Elin Thomas, daquela universidade. “Quisemos compreender melhor a ameaça que isso representa para a vida marinha que existe ali, mais concretamente para os moluscos, um dos grupos dominantes desses habitats.”

Os investigadores aplicaram os critérios da Lista Vermelha da UICN e avaliaram o risco de extinção para todas as espécies de moluscos conhecidas que apenas ocorrem em fontes hidrotermais. O estudo concluiu que das 184 espécies avaliadas, 62% estão ameaçadas: 39 estão Criticamente Em Perigo, 32 estão Em Perigo e 43 estão Vulneráveis.

Moluscos. Imagem: Chong Chen

“Quase dois terços dos moluscos estão listados como ameaçados, o que ilustra a necessidade urgente de proteger estas espécies da extinção”, comentou Elin Thomas.

A zona onde estes moluscos estão mais ameaçados é o Oceano Índico, com 100% das espécies listadas em categorias de ameaça e 60% Criticamente Em Perigo. Isto coincide com a distribuição dos contractos de exploração mineira atribuídos pela International Seabed Authority. “Na verdade, descobrimos que a gestão do fundo do mar e a regulação mineira têm, de forma consistente, o maior impacto no risco de extinção de uma espécie. Por isso, precisamos de ter regulamentações a funcionar urgentemente. Esta investigação devia ser usada para desenvolver novas políticas para proteger estas espécies antes que seja tarde demais”, defendeu Elin Thomas.

Os resultados da investigação – que envolveu investigadores dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Reino Unido – foram publicados a 9 de Dezembro na revista Frontiers in Marine Science.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.