Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Quebra-ossos abatido a tiro em Espanha

Um quebra-ossos (Gypaetus barbatus), da espécie de abutre mais ameaçada da Europa, com cerca de dois anos de idade foi encontrado morto, abatido a tiro, no Parque Natural del Calar del Río Mundo y la Sima, na província de Albacete (Castela-La Mancha), informou ontem a Junta da Andaluzia.

 

A ave foi identificada como sendo o macho Royal de la Sierra de Cazorla, que nasceu e foi libertado em 2015 no Parque Natural das Serras de Cazorla, Segura e Las Villas.

Segundo comunicado da Junta, a necropsia determinou que a ave foi abatida a tiro, tendo sido descartada a hipótese de o animal ter sido envenenado.

O cadáver foi recolhido por uma equipa de agentes do Ambiente das Juntas da Andaluzia e de Castela-La Mancha, depois de ter sido localizado por agentes da Junta e técnicos do Plano espanhol de Recuperação e Conservação de Aves Necrófagas, graças a sinais recebidos pelo transmissor GPS que o animal trazia.

“Agora aguarda-se que as investigações realizadas pela Junta e pelo Serviço de Protecção da Natureza (Seprona) da Guardia Civil dêem frutos e possam pôr nas mãos da Justiça a pessoa que abateu este exemplar de quebra-ossos”, poder ler-se no comunicado.

A Andaluzia tem a decorrer um programa de reintrodução desta espécie para estabelecer uma população autónoma e estável na região, mediante a libertação de juvenis. Desde 2006, ano do arranque do programa, já foram libertadas 44 aves nos parques naturais das Serras de Cazorla, Segura e Villas e na Serra de Cabril. Todas levam consigo transmissores GPS que permitiram confirmar a morte de 14. Em outras 11 aves os dispositivos deixaram de funcionar. Da maioria existem observações recentes e 19 continuam vivas e a emitir sinais. Um deles, a fêmea Bujaraiza, esteve em Portugal em Maio de 2015.

Todos os quebra-ossos libertados no âmbito deste plano de reintrodução procedem da reprodução em cativeiro do Programa Europeu de Espécies Ameaçadas (EEP), do qual faz parte do Centro de Reprodução de Cazorla, na província de Jaén, gerido pela Fundación Gypaetus.

O quebra-ossos é o abutre mais ameaçado da Europa e estima-se que existam hoje pouco mais de 200 casais. Houve tempos em que era comum em Portugal, mas acabou por desaparecer. Assim como na Andaluzia, devido a envenenamentos e perseguição humana.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.