Sobreiros. Foto: paul Barker Hemings / Wiki Commons

Quercus: Especulação imobiliária está a ameaçar florestas de sobreiros na Serra de Grândola

A associação lançou esta quarta-feira um alerta para o aumento da construção de casas no interior dos montados de sobro e para um abate ilegal de 290 sobreiros numa herdade.

Em Portugal, tanto o sobreiro como a azinheira são espécies protegidas por lei devido à sua importância ambiental e económica, lembra esta organização não governamental de ambiente. Mas “mais recentemente, a dispersão urbanística decorrente da especulação imobiliária verificada a partir do Litoral Alentejano apresenta-se como uma nova ameaça à integridade dos montados de sobro”, avisa a direcção da Quercus-Associação Nacional de Conservação da Natureza, numa nota de imprensa enviada à Wilder.

O problema está a verificar-se na Serra de Grândola, entre o concelho de Grândola e Santiago do Cacém, e tem estado associado a um padrão. Primeiro dá-se a compra de pequenos montes, que incluem casas abandonadas ou em ruínas. Depois de sujeitas a licenciamento municipal, estas transformam-se “em grandes casas de luxo, frequentemente sem infraestruturas mínimas, desde água canalizada, electricidade e saneamento público.”

A construção de casas no interior dos montados tem afectado os povoamentos de sobreiros e a biodiversidade especialmente na área situada entre a zona das Silveiras e a freguesia de Melides, em Grândola, indicam também os ambientalistas.

Cortados 135 sobreiros saudáveis em herdade

A ameaça à integridade dos montados de sobro também se faz sentir em grandes herdades. Segundo a Quercus, no ano passado ocorreu “um grande corte ilegal de 290 sobreiros, dos quais 135 verdes em bom estado vegetativo”, na Herdade das Silveiras de Baixo, em Grândola.

A empresa que realizou o abate tinha uma licença válida para cortar apenas 82 sobreiros secos, afirma a associação, que pediu a intervenção do SEPNA-Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente da GNR e também do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.

“Aguardamos ainda informação detalhada sobre a actuação, assim como a decisão sobre o processo de contraordenação e delimitação do condicionamento à alteração do uso do solo em povoamento de sobreiros, conforme regulamentação legal”, acrescenta.

De forma a travar a especulação imobiliária, a Quercus apela a sejam cumpridas as leis que regulam a protecção do sobreiro e da azinheira. Em causa está a necessidade de revisão das normas urbanísticas no concelho de Grândola, “para manter o ordenamento do território e evitar a viabilização dos licenciamentos, com a dispersão de construções no espaço rural associadas a elevados impactes socioeconómicos e ambientais”.


Saiba mais.

O sobreiro é uma das espécies nativas de Portugal que Carine Azevedo nos aconselha a procurar no Inverno, aqui. E esta ano, um sobreiro de Arraiolos foi eleito como a Árvore Portuguesa de 2022.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.