Acção da Ocean Alive, envolvendo Raquel Gaspar e pescadoras do Estuário do Sado. Foto: D.R.

Raquel vai levar pradarias marinhas do Sado a cimeira da ONU

O vídeo que mostrou a conservação das pradarias marinhas do Estuário do Sado venceu o concurso “The Global Youth Video Competition”, no âmbito da Cimeira do Clima da ONU, marcada para Nova Iorque a 23 de Setembro.

O vídeo de Raquel Gaião Silva, bióloga portuguesa de 24 anos, obteve mais de 65.000 visualizações no Youtube e foi o escolhido de entre 400 candidatos de todo o mundo.

No vídeo de três minutos, Raquel apresenta a importância das pradarias marinhas na fixação de carbono e o trabalho da cooperativa Ocean Alive no Estuário do Sado – desde a limpeza das águas do estuário ao envolvimento de pescadoras locais na monitorização das pradarias marinhas, mas também a realização de campos de férias de educação ambiental com estudantes de vários países.

O filme português era um dos 20 finalistas na categoria “Cidades e acção local no combate às alterações climáticas” deste concurso, realizado no âmbito da Cimeira do Clima organizada pela ONU. Como tal, vai ser transmitido durante o encontro, que se realiza este mês em Nova Iorque.

Entretanto, Raquel vai apresentar o projecto que inspirou o seu vídeo na Conferência das Partes (COP25) que se realiza em Dezembro, no Chile. 

Conquista também “o estatuto de Embaixador da Juventude para as Alterações Climáticas e apoia a ONU na cobertura jornalística da conferência, através da produção de artigos e vídeos”, adianta em comunicado a Ocean Alive.

Raquel Gaião Silva, natural de Viana do Castelo, é apaixonada por comunicação e sensibilização ambiental e tem vindo a trabalhar em assuntos ligados à sustentabilidade e às alterações climáticas.

As pradarias marinhas são constituídas por plantas aquáticas que formam uma floresta marinha que sequestra carbono a uma taxa 30 vezes superior ao das florestas terrestres.

“São estas pradarias que tornam o estuário do Sado único em Portugal, pois como florestas que são, oferecem alimento, abrigo e local de reprodução para muitos organismos marinhos, como os cavalos-marinhos, raias e para as presas dos golfinhos que residem neste estuário”, segundo a Ocean Alive. “Se estas pradarias marinhas forem destruídas, o carbono por elas armazenado será libertado e uma grande biodiversidade marinha será perdida.”

A Ocean Alive chama a atenção para “o risco iminente de degradação das pradarias do estuário do Sado como consequência das extensas dragagens previstas, como parte da obra de melhoria dos acessos ao porto de Setúbal”. “Não valerá a pena sermos um exemplo distinguido se as pradarias marinhas do estuário do Sado desaparecem.”

A 28 de Setembro está prevista uma manifestação em Setúbal contra as dragagens. “Consideramos determinante a tomada de consciência por parte do Governo português para a necessidade de mudar o paradigma da criação de riqueza e empregos mantendo os benefícios do estuário do Sado como um sistema natural que suporta a nossa qualidade de vida e um futuro sustentável, alinhados com os compromissos assumidos pelo nosso país na ONU: os Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 e o Acordo de Paris, devido à necessidade urgente de travar o aumento da temperatura média global e resolver os desafios ligados às alterações climáticas.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.