Reflorestação pode reverter avalanche de extinções de espécies na Amazónia

Recuperar a floresta tropical da Amazónia pode reverter a actual avalanche de extinções de espécies, descobriu um novo estudo, feito com a ajuda de 50 espécies de morcegos, foi hoje revelado.

 

Uma equipa internacional de investigadores – na qual participaram cientistas portugueses – capturou mais de 6.000 morcegos de 50 espécies na Amazónia para saber como é que a recuperação da floresta tropical afeta a persistência destas espécies.

Os morcegos foram estudados numa zona da floresta Amazónica que, há 30 anos, está a ser palco de um projecto de investigação sobre regeneração da biodiversidade. Primeiro foram criados vários fragmentos através da queima e limpeza da floresta circundante.

 

Fragmento de floresta, no projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (Amazónia Central, Brasil)

 

Entre 1996 e 2002, os investigadores verificaram que as populações de espécies fortemente associadas a este habitat tinham diminuído de forma drástica. No entanto, os dados recolhidos entre 2011 e 2013 – 30 anos após o início do processo de fragmentação – revelam que, com a regeneração da floresta tropical em torno destes fragmentos, várias espécies que tinham abandonado a região regressaram.

Os resultados, publicados hoje na revista Scientific Reports, “representam um sinal de esperança para a biodiversidade das florestas tropicais de todo o mundo”, segundo um comunicado do cE3c – Centro para a Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa).

 

Regeneração da floresta: precoce (à esquerda) e fase final (à direita)

“A resposta dos morcegos demonstrada neste estudo dá pistas importantes sobre a possível resposta de outros grupos de espécies”, explica Ricardo Rocha, investigador do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e da Universidade de Cambridge (Reino Unido).

Actualmente estima-se que os morcegos representem cerca de um quinto de todas as espécies de mamíferos. E a floresta Amazónica alberga uma das faunas de morcegos mais rica e diversa do mundo.

 

Phyllostomus discolor, uma espécie de morcego omnívora e uma das espécies em estudo neste projeto, a caçar um inseto da família Tettigoniidae. Foto: Adrià López-Baucells

 

“A recuperação que documentámos espelha os padrões já observados para coleópteros e aves, noutros estudos realizados no âmbito deste projeto”, acrescentou o investigador. “Estas tendências paralelas reforçam a ideia de que os benefícios da regeneração da floresta estão longe de beneficiar apenas algumas espécies e sugerem que a recuperação do habitat pode mitigar os estragos causados pela atividade do Homem na vida selvagem tropical.”

O facto de a maioria dos estudos desta natureza serem de curto prazo não permite avaliar de forma adequada ao longo do tempo os efeitos complexos da fragmentação da floresta na vida selvagem. “Os estudos de longo prazo, como o nosso, são essenciais para desvendar a dinâmica complexa das alterações da biodiversidade em paisagens tropicais modificadas pelo Homem”, conclui Christoph Meyer, colaborador do cE3c, investigador da Universidade de Salford (Reino Unido) e coordenador do estudo.

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Em Setembro de 2016, a Wilder falou com Ricardo Rocha, a propósito do primeiro Guia de Campo dos Morcegos Amazónicos. Saiba mais aqui.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Pode descarregar aqui o Guia de Campo dos Morcegos Amazónicos.

Descubra as sete coisas sobre os morcegos em Portugal que precisa de saber.

Saiba mais sobre como se desenha um morcego.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.