Pardela-sombria. Foto: Anders Wirdheim

Registado número “astronómico” de aves em migração em Peniche

Entre as 07h00 e as 20h00 de dia 16 de Setembro foram contadas 13.000 pardelas-sombrias (Puffinus puffinus) a voar em migração sobre o mar junto à costa em Peniche, um número considerado “astronómico” pelos ornitólogos do Peniche Seabird Count.

 

 

O dia 16 de Setembro foi memorável, conta Hélder Cardoso, um dos organizadores do Peniche Seabird Count, projecto a decorrer de 15 de Agosto a 15 de Novembro para contar as aves marinhas que passam em migração por Peniche. Só nesse dia, entre as 07h00 e as 20h00, foi registado um total de 21.330 aves. Mais do que as 15.049 que o projecto tinha registado de 15 de Agosto a 10 de Setembro, quando falámos com Hélder Cardoso sobre o Peniche Seabird Count.

Mas o que mais surpreendeu as pessoas que estiveram a contar as aves, através de binóculos e telescópios, foi o número de uma espécie, a pardela-sombria (Puffinus puffinus).

 

Observadores a contar as aves no dia 16 de Setembro. Foto: Anders Wirdheim

 

“Entre as 07h00 e as 20h00 registámos uma passagem migratória ininterrupta de pardela-sobria, com 13.000 aves registadas”, explica o ornitólogo. O surpreendente é que “esta é uma espécie que habitualmente se observa em números relativamente baixos ao largo da costa de Portugal”. Desde que o projecto começou (15 Agosto até ao dia 15 de Setembro) a média de passagem desta espécie era de 45 aves/hora. No dia 16, a média foi de 1.000 aves/hora.

Hélder Cardoso acredita que estas pardelas vinham das ilhas britânicas e Irlanda, onde nidificam, em direcção às costas da América do Sul e África, onde vão passar o Inverno.

 

Um dia, 27 espécies diferentes

 

Além da pardela-sombria também foram registados “números interessantes de pardela-preta (Puffinus griseus) com cerca de 1.600 indivíduos registados”, acrescenta.

Hélder explicou à Wilder que este fenómeno se deveu às condições meteorológicas. “A quantidade anormal de pardelas-sombrias e de outras espécies deve-se à passagem de duas depressões barométrias na zona do Golfo da Biscaia no dia anterior.” Estas depressões “trouxeram consigo frentes frias que ‘varreram’ a costa galega e portuguesa, fazendo com que as aves que estavam a sair em migração das áreas de reprodução fossem ‘empurradas’ e concentradas para junto da costa”.

“Assim que o mau tempo passou, todas as aves rumaram para Sul e continuaram a migrar concentradas junto da costa”, acrescentou.

“A presença de outro centro de baixas pressões entre Portugal Continental e os Açores, também contribui para que as aves não se dispersassem para o meio do Oceano Atlântico.”

A 16 de Setembro, os ornitólogos observaram 27 espécies diferentes a passar por Peniche. “Os maiores números, além das pardelas-sobrias, foram de pardela-preta com 1.514; moleiro-grande (Stercorarius skua), com 247 e moleiro-do-árctico (Stercorarius parasiticus), com 414. Todas estas espécies foram registos invulgares pelos números envolvidos”, diz Hélder Cardoso.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.