britango a voar
Abutre-do-Egipto. Foto: Artemy Voikhansky/Wiki Commons

Regressada de África, Faia está quase a chegar ao Douro

Faia é um dos três abutres-do-Egipto nascidos na região do Douro Internacional seguidos à distância através de emissores GPS, marcados no âmbito do projecto de conservação LIFE Rupis.

 

Marcada com um emissor em Junho de 2017, quando foi capturada na zona de Escalhão, região de Figueira de Castelo Rodrigo (Guarda), Faia é uma fêmea de abutre-do-Egipto que se tem reproduzido com sucesso no vale de Águeda, no lado espanhol do Douro.

Os abutres-do-Egipto (Neophron percnopterus), também conhecidos por britangos, são os abutres mais pequenos da Europa. São aves migradoras e quase todos passam os meses mais frios em África, a sul do Sahara, de onde começam agora a regressar.

 

abutre do Egipto em grande plano
Abutre-do-Egipto. Foto: Pixabay

 

Faia começou a ser seguida logo em 2017, quando foi a primeira entre cinco abutres marcados com emissores GPS a partir para África, no âmbito do projecto luso-espanhol LIFE Rupis (2015-2019). Agora, mais uma vez, é a primeira a dar sinal no regresso à Península Ibérica.

De acordo com a Vulture Conservation Foundation (VCF), uma das entidades parceiras deste projecto na região do Douro Internacional, Faia tinha partido do Vale do Douro a 6 de Setembro do ano passado, há seis meses. Atravessou o Estreito de Gibraltar, rota que estas aves costumam seguir, e a última notícia que se teve dela indicou que estava no Mali, logo a sul da fronteira com a Mauritânia.

Tal como aconteceu noutras vezes, o emissor GPS passou a dar sinal de forma intermitente, devido à falta de redes de comunicação nesta região de África. Sabe-se que permaneceu no Mali durante meio ano, “onde há muita comida para ela se alimentar e pouca ou nenhuma perturbação por humanos”, relata a VCF.

Finalmente a 4 de Março, há uma semana, o emissor de Faia mostrou que a viagem de regresso ao norte da Península Ibérica estava a começar. No dia seguinte chegou a Marrocos, onde passou alguns dias antes de atravessar o Estreito de Gibraltar neste último domingo, chegando então a Espanha.

 

Fonte: VCF

 

“Já está a fazer um bom progresso e continuamos a monitorizar os seus movimentos de perto, aguardando que regresse ao Douro”, adianta a VCF. Se tudo correr como é esperado, esta abutre deverá regressar ao mesmo ninho, reencontrando o companheiro de outros anos após vários meses de separação.

 

britango frente a um buraco numa arriba
Abutre-do-Egipto nas arribas do Douro. Foto: LIFE Rupis

 

Estas aves costumam nidificar em fendas e reentrâncias das arribas do Douro. Preparam o ninho com ramos, sobre os quais vão colocando raminhos e ramagens, e até mesmo lã de ovelha para aquecerem as crias quando nascem. Entre o final de Agosto e de Setembro, Faia deverá partir novamente para África.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Além de Faia, Arribas e Rupis são os outros dois abutres-do-Egipto que continuam a ser seguidos através de emissores GPS. Pode ver as últimas localizações destas e de outras aves ligadas a outros projectos acompanhados pela VCF, aqui.

Recorde também alguns dos factos conhecidos sobre o que acontece aos abutres-do-Egipto que voam de Portugal para África.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.