Reino Unido regista surpreendente migração de bicos-grossudos

Por estes dias, um número excepcionalmente elevado de bicos-grossudos (Coccothraustes coccothraustes) está a ser registado no Reino Unido, segundo a Royal Society for Protection of Birds (RSPB).

 

O número de bicos-grossudos – aves também conhecidas como trinca-pinhões ou bico-gordos – que estão a chegar ao Reino Unido para passar o Inverno está a surpreender os ornitólogos britânicos.

Estas aves tímidas e vistosas distinguem-se pelo bico que faz lembrar o dos papagaios, capaz de abrir mesmo as cascas mais duras.

 

Bico-grossudo macho. Foto: Ben Andrew/RSPB

 

Em Portugal é uma espécie residente, com uma distribuição “irregular e bastante fragmentada”, de acordo com o livro “Aves de Portugal”. No Reino Unido, estima-se que existam menos de mil casais. Segundo a RSPB, “o número de bicos-grossudos que nidificam aqui tem vindo a diminuir nos últimos anos. Mas todos os Invernos recebemos as aves do Continente que aqui chegam à procura de alimento”.

Contudo, este ano os números estão bastante acima do normal, com centenas de observações já registadas. É uma chamada “irrupção”, como a que aconteceu no ano passado com outra espécie, a tagarela-europeia.

 

“Só no condado de Bedfordshire foram registados mais de 230 bicos-grossudos”, comentou Lizzie Bruce, da reserva natural The Lodge, naquela região do Leste de Inglaterra. “Isso é extraordinário, uma vez que, na maioria dos anos, temos sorte de virmos um ou dois.”

 

Fêmea de bico-grossudo. Foto: Andy Hay/RSPB

 

 

Esta abundância de números não passou desapercebida para quem gosta de observar aves. “Isto tem causado grande entusiasmo nos nossos visitantes e equipas da RSPB, que têm largado tudo e vindo até aqui para conseguir ver uma destas aves empoleirada no cimo de uma árvore”, acrescentou Lizzie Bruce, em comunicado.

Esta responsável explicou que, “normalmente, as irrupções estão associadas à falta de alimento: demasiadas aves ou falta de alimento para que consigam sobreviver ao Inverno. Isso aconteceu no ano passado com as tagarelas-europeias”.

Outro factor é o clima. “Os bicos-grossudos migram, tradicionalmente, para Sul dos seus territórios de reprodução na Europa Central em direcção ao Mediterrâneo. Este ano a sua migração coincidiu com a chegada da Tempestade Ofélia (…) com ventos fortes a empurrar muitos dos bicos-grossudos em migração para o Reino Unido.”

Isto, acrescentou, talvez ajude a explicar por que razão a maioria dos bicos-grossudos tenham sido observados no Sul de Inglaterra e no País de Gales.

 

Macho de bico-grossudo. Foto: Andy Hay/RSPB

 

Os investigadores da RSPB estão a estudar as razões pelas quais estas aves não nidificam no Reino Unido como o costumavam fazer. Actualmente estão a analisar se a disponibilidade de alimento é, ou não, um problema, em colaboração com a Universidade de Cardiff.

 

O Inverno é uma das melhores alturas do ano para observar estas aves, uma vez que muitas árvores estão sem folhas. Os bicos-grossudos juntam-se para passarem a noite em árvores-dormitórios e também se juntam em bandos durante o dia para procurarem alimento, normalmente sementes grandes e rebentos de árvores e arbustos.

Em Portugal, o número destas aves que são residentes é engrossado no Inverno com as aves que chegam do Centro e Norte da Europa, segundo o livro “Aves de Portugal”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o bico-grossudo em Portugal aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.