Leão macho na área vedada, para aclimatação. Foto: Sean Viljoen

Reintroduzidos leões no Malawi para restaurar população perdida

Há anos que não se via um leão no Parque Nacional do Liwonde, no Malawi. Agora, pela primeira vez e graças ao esforço de várias organizações, estes animais icónicos foram reintroduzidos naquela área protegida para restaurar o ecossistema e reforçar a oferta turística.

 

O Parque Nacional do Liwonde, no Sul do Malawi e com 580 quilómetros quadrados, não tinha uma população reprodutora de leões desde há 20 anos. O último leão visto em Liwonde foi há quatro anos. A perda de habitat, a perseguição e a caça furtiva ditaram o desaparecimento destes animais na área protegida.

Agora, um grupo de entidades uniu esforços para trazer de volta os leões a Liwonde. Os animais – sete vindos da África do Sul e dois da Reserva de Vida Selvagem de Majete, também no Malawi – chegaram ao parque há várias semanas. Desde então estiveram em zonas vedadas para se aclimatarem.

 

Leão macho na área vedada, para aclimatação. Foto: Sean Viljoen

 

A 22 de Agosto, os conservacionistas abriram as portas dos cercados e os nove leões passaram a viver em liberdade total no Parque Nacional do Liwonde.

 

Momento da abertura das zonas vedadas. Foto: Sean Viljoen

 

Esta é uma das iniciativas de um projecto maior para recuperar os predadores nos parques nacionais do Malawi, coordenado pela organização não governamental African Parks e com o apoio do Departamento Nacional de Parques e de Vida Selvagem daquele país, o Governo holandês, o Lion Recovery Fund e a Leonardo DiCaprio Foundation.

 

Dois leões machos nas jaulas de transporte, ainda anda Reserva de Majete. Foto: Sean Viljoen

 

“Estamos muito orgulhosos com a recuperação dos parques do nosso país e estamos comprometidos em garantir a protecção deste património nacional extraordinário”, comentou, em comunicado, Brighton Kumchedwa, director do Departamento de Parques Nacionais e Vida Selvagem do Malawi.

“A reintrodução de leões e de outras espécies emblemáticas é o coração desta visão, que permite o rejuvenescimento das populações selvagens, o reforço do turismo e do desenvolvimento sócio-económico e a contribuição para o bem-estar das pessoas que vivem em redor dos parques”, acrescentou.

 

Paisagem do Liwonde. Foto: Micheal Lorentz

 

A African Parks trabalha no Malawi desde 2003, ano em que passou a gerir a Reserva de Vida Selvagem de Majete. Assim como o Liwonde, também esta área protegida tinha perdido muitas espécies de topo. Mas desde então tem vindo a recuperar e hoje orgulha-se de ter mais de 12.000 animais, desde leões e elefantes a leopardos e rinocerontes.

O Liwonde é a segunda área protegida a ser recuperada. Em Maio do ano passado foram reintroduzidas chitas e agora, leões.

Mas antes das reintroduções, as organizações conservacionistas prepararam o Parque Nacional. Foi reforçada a segurança – com a criação de patrulhas de guardas, por exemplo -, construiu-se uma vedação robusta no seu perímetro, milhares de armadilhas ilegais foram removidas e foi montado um projecto com as comunidades locais para evitar a caça ilegal e os conflitos entre animais e pessoas.

 

Leões nas zonas vedadas, no Liwonde. Foto: Frank Weitzer

 

Há 100 anos, África tinha mais de 200.000 leões em estado selvagem. Mas nas últimas décadas, a perda de habitat, conflitos entre animais e humanos e a diminuição das presas causaram o declínio destas populações para apenas 20.000 animais. Os leões desapareceram de 90% dos seus territórios históricos.

Hoje, os leões estão extintos em 26 países africanos. O Malawi quer ser conhecido pelos seus esforços para conservar a espécie. “Fazer o rewilding dos parques do Malawi e restaurar o seu predador mais icónico é um sinal de esperança de que podemos realmente recuperar os leões e as suas paisagens um pouco por toda a África, com e pelas comunidades e suas economias”, comentou Jeffrey Parrish, vice-presidente da Wildlife Conservation Network, e fundador do Lion Recovery Fund.

“Os parques são a pedra angular da conservação e fazer o rewilding dos parques com os seus predadores de topo é o que torna um parque completo”, comentou Justin Winters, director-executivo da Leonardo DiCaprio Foundation.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra aqui que outros animais foram transferidos entre áreas protegidas no Malawi.

No Ruanda, rinocerontes negros foram reintroduzidos no âmbito de um projecto da African Parks.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.