Reserva natural inglesa fascinada com baby-boom de anfíbio raro

As crias de sapo-corredor, nascidas em Julho, estão a causar uma onda de entusiasmo na reserva natural The Lodge, gerida pela Royal Society for Protection of Birds (RSPB), em Inglaterra. Se em Portugal esta é uma espécie comum, naquele país tem vindo a desaparecer e hoje é uma espécie rara.

 

A RSPB fala num baby-boom de sapos-corredores (Bufo calamita) este Verão na reserva natural The Lodge, 180 hectares protegidos para a vida selvagem desde 1961 em Bedfordshire, no Leste de Inglaterra.

O fotógrafo Ben Andrew, da RSPB, registou em imagens este fenómeno pouco usual. “Não é todos os dias que podemos ver estes sapos raros, muito menos fotografá-los”, comentou, em comunicado divulgado hoje.

 

 

“Quando fui convidado para me juntar aos vigilantes do The Lodge nos seus censos de monitorização nem pensei duas vezes.”

Em Julho, os vigilantes e voluntários daquela organização contaram mais de 300 anfíbios do tamanho de uma unha do polegar, que emergiam dos charcos daquela área protegida.

“Estamos encantados e aliviados por termos encontrado tantas crias este ano”, contou Lizzie Bruce, vigilante do The Lodge.

 

Lizzie Bruce, vigilante da reserva natural The Lodge

 

“Um Abril frio, combinado com um Maio muito seco, não proporcionaram as condições ideais para estes sapos no início da sua época reprodutora. Alguns charcos secaram completamente.”

“A chuva em Junho encheu os charcos novamente e o número de crias que vimos em Julho e Agosto prova que os sapos-corredores conseguiram reproduzir-se rapidamente. Só nesta semana contámos mais 2.000 girinos, por isso poderemos ter mais sapos-corredores este ano”, acrescentou.

 

 

O sapo-corredor é um dos anfíbios mais raros do Reino Unido; no Leste de Inglaterra apenas vivem em nove locais.

Segundo a RSPB, as populações destes anfíbios diminuíram drasticamente por causa da destruição dos habitats. Durante o século XX perderam-se 70% das colónias.

O trabalho para recuperar a espécie na reserva natural The Lodge começou nos anos 80 do século passado, com a introdução dos primeiros sapos-corredores vindos da reserva natural Syderstone, em Norfolk. Nos últimos anos, estes animais têm conseguido colonizar novos charcos que têm sido criados para eles.

 

 

“São uns pequeninos incríveis!”, comentou Ben Andrew. “Encontrar e fotografar os adultos à noite foi mesmo entusiasmante e depois ver e fotografar as suas crias foi um momento muito especial.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Os sapos-corredores são mais pequenos do que os seus “primos”, o sapo-comum. Os adultos medem apenas cerca de seis centímetros. Quando começam a emergir da água, depois de passarem de girinos à forma adulta, são do tamanho de uma unha do polegar.

Distinguem-se dos sapos-comuns pela risca amarela que têm no meio das costas. O padrão de cores é como a nossa impressão digital e ajuda a distinguir cada indivíduo.

Os adultos são especialmente animais nocturnos e muitas vezes ouvem-se antes de se verem. As suas vocalizações na época de reprodução podem ser ouvidas a mais de um quilómetro de distância.

Durante o dia, os sapos abrigam-se em buracos no chão ou debaixo de objectos. Ao anoitecer começam a sair para caçar escaravelhos e outros insectos e invertebrados dos quais se alimentam.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.