Foto: Tchami/Wiki Commons

Revelado o mistério das concentrações de tubarões-baleia

Os tubarões-baleia, o maior peixe do mundo, concentram-se em massa num reduzido número de locais nos oceanos do planeta. Uma equipa de cientistas acabou de descobrir porquê.

 

Grandes grupos de tubarões-baleia (Rhincodon typus) reúnem-se em apenas cerca de 20 locais nas águas ao largo de países como a Austrália, Belize, Maldivas e México. As razões pelas quais os tubarões, que podem chegar até aos 10 metros de comprimento, escolhem esses locais específicos têm sido um mistério para investigadores e conservacionistas.

Num novo estudo – coordenado por investigadores da Universidade de York, em colaboração com o Maldives Whale Shark Research Programme (MWSRP) e publicado a 8 de Junho na revista PeerJ -, descobriu que os locais de concentração destes turbarões têm muitas características em comum. Situam-se todos em áreas de águas quentes, pouco profundas e perto de zonas onde o fundo marinho desce abruptamente para grandes profundidades.

Os cientistas sugerem que esses locais oferecem as zonas ideais para estes tubarões procurarem alimento tanto em águas profundas como em águas pouco profundas, onde podem permanecer para aquecer os seus enormes corpos.

 

Foto: MWSRP

 

Os tubarões “dependem de fontes externas para se aquecerem. Dado que podem ter de mergulhar a profundidades superiores a 1.900 metros para se alimentar, onde a temperatura da água pode descer até aos 4ºCelsius, eles precisam de um local próximo para descansar e recuperar a temperatura corporal”, explicou Bryce Stewart, coordenador do estudo e investigador no Departamento de Ambiente da Universidade de York.

Além disso, as “descidas abruptas no fundo marinho geram uma dinâmica de correntes oceânicas que estimulam o plâncton e os pequenos crustáceos, como o krill, do qual os tubarões se alimentam”.

No entanto, estes locais têm os seus desafios e perigos. Os tubarões que nadem em águas pouco profundas, perto da superfície, estão vulneráveis a colisões com embarcações, desde grande navios a barcos turísticos para observação de tubarões.

Os investigadores fazem uma boa ideia dos animais que acabam por ser feridos nestas colisões, porque cada tubarão pode ser identificado pelo padrão único e distintivo de pintas e riscas. “A percentagem e a extensão dos ferimentos é, infelizmente, muito elevada”, comentou o investigador principal Joshua Copping.

A colisão com barcos, a captura acidental em redes de pesca e a caça por causa das suas barbatanas e carne têm contribuído para uma redução alarmante dos números globais de tubarões-baleia nos últimos 75 anos.

Os investigadores acreditam que, salientar a importância destas áreas de concentração para a espécie, possa levar a uma melhor gestão das mesmas, para minimizar o impacto da actividade humana no habitat destes animais e nos seus comportamentos.

“Quanto mais sabemos sobre a biologia dos tubarões-baleia, mais podemos fazer para os proteger. E esta investigação pode ajudar-nos a prever para onde é que eles se poderão deslocar à medida que o nosso clima se altera”, acrescentou Stewart.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o tubarão-baleia

O tubarão-baleia, que pode pesar até 11 toneladas, é o maior peixe e tubarão do planeta. Este gigante marinho tem cerca de 3.000 pequenos dentes mas não é perigoso para humanos. 

Normalmente, os tubarões-baleia patrulham os oceanos do planeta sozinhos. Ainda assim, grandes números de indivíduos concentram-se em determinadas áreas, o que as torna pontos de grande atracção turística.

Esta é uma espécie classificada como Em Perigo de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN).

Estima-se que as suas populações tenham declinado mais de 50% ao longo dos últimos 75 anos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.