Foto: Joana Bourgard

Revisão da Lista Vermelha confirma declínio da biodiversidade “num ritmo nunca visto”

Das raias aos macacos, dos peixes de água doce às árvores da floresta, a nova revisão da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas traça um retrato preocupante da biodiversidade no mundo.

Há cada vez mais conhecimento sobre o estado da biodiversidade em todo o mundo, mas o balanço é negativo. Quase 9.000 espécies foram avaliadas pela primeira vez na nova revisão da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que cresceu para um total de 105.732 espécies. Mas destas, mais de um quarto (28.338) estão hoje ameaçadas de extinção.

“Com mais de 100.000 espécies agora avaliadas pela Lista Vermelha da UICN, esta actualização mostra claramente como é que os humanos em todo o mundo estão a sobre-explorar a vida selvagem”, alertou esta semana a directora-geral interina da organização, Grethel Aguilar, em comunicado.

“Esta revisão da Lista Vermelha confirma os achados do recente relatório de avaliação da biodiversidade global, do IPBES (Painel Intergovernamental sobre a Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas: a natureza está a declinar num ritmo nunca visto na história da humanidade“, lamentou por seu turno a directora-global do Grupo para a Conservação da Biodiversidade da UICN.

Os peixes de água doce são uma das maiores preocupações, ameaçados principalmente pelo perda de rios “livres” – sem obstáculos nos seus cursos, como barragens e albufeiras – e pela poluição crescente proveniente da agricultura e da indústria.

De acordo com a UICN, “as espécies de peixes de água doce do mundo, que chegam a quase 18.000, estão a atravessar um declínio dramático e largamente desconhecido a nível global, como é possível perceber pelos altos níveis de ameaça de extinção nas espécies de peixes de água doce do Japão e do México”.

Mais de metade das espécies endémicas de peixes de água doce do Japão e mais de um terço dos peixes de água doce do México estão agora ameaçadas de extinção.

Dos rios para os oceanos, as ameaças continuam. A nova revisão da Lista Vermelha detectou que as raias conhecidas em inglês por ‘rhino rays’ são agora os peixes marinhos em maior perigo a nível mundial. Das 16 espécies deste grupo, 15 estão hoje Em Perigo Crítico de extinção, apenas a um passo de desaparecerem da natureza.

Em causa está um grupo de peixes conhecidos por peixes-viola, incluindo os peixes-viola-gigantes. “Parentes próximos dos tubarões, com algumas espécies a crescerem até aos três metros de comprimento, vivem em águas pouco profundas do Oceano Índico e Pacífico Ocidental ao Oceano Atlântico Leste e ao Mar Mediterrâneo.” Muitas vezes vítimas de pesca acidental, as barbatanas são vendidas para fazer sopa de tubarão.

Quanto aos primatas, sete espécies ficaram mais próximas da extinção – seis delas na África Ocidental – vitimadas pela caça para consumo destes animais e pela desflorestação. “40% das espécies de primatas na África Ocidental e Central estão agora ameaçadas.”

Entre estes, o Cercopithecus roloway, endémico da Costa do Marfim e do Gana, passou a ser considerado Em Perigo Crítico. Estima-se que hoje sobrevivam menos de 2.000 indivíduos, devido à caça para consumo da carne e da pele destes primatas.

Primata da espécie Cercopithecus roloway. Foto: Hans Hillewaert

Quinze cogumelos europeus em risco

Por ouro lado, mais de 79 cogumelos entraram este ano na Lista Vermelha, aumentando quase para o dobro o total de espécies avaliadas. Destas, “pelo menos 15 espécies de fungos que crescem nas pradarias semi-naturais dos campos tradicionais de muitos países europeus estão ameaçadas de extinção.”

Já no que respeita às árvores, nesta revisão mais de 5.000 espécies de 180 países foram pela primeira vez adicionadas à Lista Vermelha, contribuindo para o objectivo do projecto Global Tree Assessment de avaliar todas as espécies de árvores no mundo até ao final de 2020.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.