Coruja-do-mato (Strix aluco). Foto: Peter Trimming/Wiki Commons
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RIAS devolve três corujas-do-mato à natureza

Chegadas ao centro algarvio ainda pequenas crias, as corujas tiveram de aprender a ser autónomas. A Wilder falou com a equipa para saber como foi esse processo.

 

É entre Dezembro e Fevereiro que em Portugal nascem as pequenas crias de corujas-do-mato (Strix aluco). Três destas aves, nos primeiros meses do ano, foram parar ao RIAS-Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens.

A primeira deu entrada em Janeiro e as outras duas no mês seguinte. É comum isso acontecer por essa altura, neste e noutros centros de recuperação animal do país. Afinal, as quedas do ninho acontecem de forma natural, “seja por desequilíbrio ou por tentativa de primeiro voo”, explicou à Wilder Vera Marques, que trabalha neste centro situado em Olhão, em pleno Parque Natural da Ria Formosa.

 

Uma das pequenas crias de corujas-do-mato. Foto: RIAS

 

Ainda que sem lesões físicas, as três crias ainda ficaram alguns meses no RIAS até serem libertadas no final de Abril. Nesse período, a equipa veterinária esforçou-se para ajudá-las a crescer e para que aprendessem a sobreviver sozinhas.

Por exemplo, para alimentar as pequenas aves, “de forma a simular aquilo que aconteceria no ninho, foi-lhes dado rato em pedaços, tal como os progenitores fariam”, descreveu Vera Marques. Mais tarde, à medida que cresciam – adiantou a mesma responsável – “foram providenciados ratos vivos, para que pudéssemos garantir que conseguiam caçar, e assim, sobreviver sozinhas.”

Ajudar estes animais a tornarem-se independentes é na verdade “um processo um tanto demorado e exigente”. Nos primeiros dias começa pela necessidade de “forçar o alimento”, algo que “exige cuidados redobrados, tempo e paciência.”

 

Aprender a caçar

“[As três] foram pesadas todos os dias para garantir o aumento de peso. Mais tarde, foram transferidas para instalações exteriores com enriquecimento ambiental (existência de árvores e esconderijos), onde o instinto natural faz o seu trabalho. Aqui foram colocadas presas vivas para estimular estas aves a caçar.”

A ajudar tiveram o facto de haver três corujas-do-mato a partilharem o espaço do centro, pois assim puderam “socializar e aprender umas com as outras os comportamentos naturais “, notou a mesma responsável, que trabalha no Departamento de Educação Ambiental e Divulgação do RIAS.

Já mais crescidas e autónomas, foram devolvidas à natureza no dia 24 de Abril.

 

Libertação das três corujas-do-mato. Foto: RIAS

 

O que fazer se encontrar uma ave destas caída?

Nesta altura do ano, as corujas-do-mato que nasceram há poucos meses costumam estar ainda em fase de crescimento, a receber dos progenitores os cuidados necessários.

Se encontrar uma destas aves no chão, por ter caído do ninho, “é necessário perceber se terá ferimentos”, adiantou a responsável do RIAS. “Caso não tenha (e não havendo perigo por perto, como estradas e predadores) poderá ser aí deixada. Os progenitores irão continuar a alimentá-la.”

Mas se encontrar ferimentos ou suspeitar de algum problema, pode encaminhar a ave para o centro de recuperação de fauna selvagem mais próximo. Aí será examinada por veterinários experientes.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

O aumento da urbanização tem levado à perda de habitat para as corujas-do-mato e outras espécies. Vera Marques explica como pode ajudar:

“Neste caso, se as pessoas tiverem uma propriedade espaçosa e com árvores, pode ser colocada uma caixa-ninho apropriada a esta espécie, incentivando aqui a nidificação. É uma óptima aliada no controlo de ratos. No caso de terem conhecimento de algum ninho nas proximidades, é claro que não se deverão aproximar. Desta forma iriam assustar os progenitores, e possivelmente causar o abandono do ninho e das crias.”

Saiba mais sobre as corujas-do-mato e onde estão presentes, no portal Aves de Portugal.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.