Rinocerontes negros regressam ao Ruanda depois de 10 anos de ausência

Vinte rinocerontes-negros vão ser reintroduzidos nas duas primeiras semanas de Maio num parque nacional do Ruanda depois de a espécie ter desaparecido desse país há 10 anos, anunciou a organização African Parks nesta segunda-feira.

 

Estes 20 animais – da subespécie Diceros bicornis ssp. michaeli, classificada como Criticamente Em Perigo pela Lista Vermelha da União Internacional da Conservação da Natureza (UICN) – vão ser levados da Reserva de Caça Thaba Tholo, na África do Sul, para o Parque Nacional Akagera, no Ruanda, para aí criarem o núcleo populacional fundador. Este é um “acontecimento histórico para o país e para a espécie” para a African Parks, organização sem fins lucrativos que gere os parques nacionais e áreas protegidas em África, nome dos Governos.

 

Um rinoceronte sedado é monitorizado pela equipa da African Parks. Foto: Lindsey Tainton/African Parks

 

O Parque Nacional Akagera, com 1.112 quilómetros quadrados, é a maior zona húmida protegida da África Central. No final da década de 1970 albergava mais de 50 rinocerontes-pretos. Mas anos de caça ilegal levaram ao seu desaparecimento. A última observação confirmada de um rinoceronte negro é de 2007.

O projecto de reintrodução destes 20 animais começou em Fevereiro deste ano, quando uma equipa de peritos selecionou e capturou os rinocerontes na Reserva de Caça Thaba Tholo, na África do Sul. Os animais foram transportados em camiões e avião até à sua nova casa, em Akagera, a 4.000 quilómetros de distância. Quando chegaram foram libertados em cercados para se familiarizarem com o local, antes de serem reintroduzidos em plena natureza.

 

A equipa ajuda a guiar um rinoceronte para um camião. Foto: Lindsey Tainton/African Parks

 

A African Parks ficará responsável por estes rinocerontes. Segundo esta organização, Akagera tem fortes dispositivos de segurança, incluindo equipas com cães treinados e um helicóptero. “A equipa no local passou por anos de estudo, planeamento e preparação, incluindo treino em seguimento de rinocerontes e monitorização”, explica, em comunicado. Além disso, os animais serão geridos de acordo com um programa de conservação rigoroso.

Esta reintrodução é apoiada pelo Governo do Ruanda e pela Fundação Howard G. Buffett e faz parte de uma visão que quer recuperar a vida selvagem de Akagera. De acordo com a African Parks, os níveis de caça ilegal são os mais baixos dos últimos seis anos e a vida selvagem está a recuperar. Sete leões foram reintroduzidos em 2015 e hoje essa população duplicou, por exemplo.

Actualmente existem menos de 5.000 rinocerontes-negros em estado selvagem em África, por causa da caça ilegal. Desses, menos de 1.000 são da subespécie Diceros bicornis ssp. michaeli. “Esta reintrodução representa uma oportunidade urgente e valiosa para expandir o território e a protecção a esta espécie icónica na única área protegida do Ruanda que é adequada a este efeito”, escreve a organização.

 

 

“Os rinocerontes são um dos grandes símbolos de África”, comentou Peter Fearnhead, director da African Parks. “Ainda assim estão gravemente ameaçados e em declínio em muitos locais espalhados pelo continente, devido ao extremamente lucrativo comércio ilegal de corno de rinoceronte.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Acompanhe aqui toda a viagem destes animais.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.