Foto: Karis Leah/Pixabay

Sabia que os corvos-marinhos conseguem ouvir debaixo de água?

Pela primeira vez, investigadores demonstraram que os corvos-marinhos conseguem ouvir debaixo de água, uma capacidade já conhecida para focas, baleias e outros animais marinhos, revelou ontem a Universidade do Sul da Dinamarca. O estudo foi publicado na revista The Science of Nature.

 

É na água que os corvos-marinhos encontram a maior parte do seu alimento. Na verdade, cerca de um décimo das espécies de aves conhecidas no mundo – cerca de 800 espécies – caçam debaixo de água.

Cinco investigadores do Departamento de Biologia da Universidade do Sul da Dinamarca (SDU) testaram a capacidade de audição do corvo-marinho Loke, um corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) com seis anos. Esta ave vive na estação de investigação biológica na cidade dinamarquesa de Kerteminde.

Os investigadores colocaram microfones subaquáticos num tanque onde estava Loke e que produziam sons diferentes. Com esta experiência, os biólogos conseguiram provar que Loke consegue ouvir sons entre 1 e 4 kHz e é nestes valores que peixes como o arenque, que faz parte da dieta dos corvos-marinhos, emitem sons.

 

O corvo-marinho Loke a ser testado pelos investigadores. Foto: University of Southern Denmark

 

“Ouvir debaixo de água deve ser muito útil para os corvos-marinhos. Eles dependem de ser capazes de encontrar alimento, mesmo quando a água não é muito transparente, ou se viverem nas regiões do Árctico, onde está escuro por longos períodos de tempo”, explicou Kirstin Hansen, uma das investigadoras que participou neste estudo.

O problema é que há vários sons feitos pelo Homem – desde turbinas eólicas, tráfego de navios, motas de água e plataformas petrolíferas – que também estão dentro daqueles valores. “Os sons emitidos pelas actividades humanas podem perturbar os animais nos oceanos, impedindo-os de encontrar alimento ou de comunicarem uns com os outros”, alertou Magnus Wahlberg, também daquela universidade. “É um problema conhecido para golfinhos e focas, por exemplo, e agora é um potencial problema para as aves marinhas. É algo a que devemos prestar atenção.” Os três tipos de sons que mais preocupam os biólogos são o ruído dos navios, dos sonares militares e de obras (desde a construção e reparação dos portos às turbinas eólicas off-short), adiantou Wahlberg.

Agora, os biólogos daquela universidade estão a planear realizar mais testes e as próximas aves a serem testadas serão os papagaios-do-mar e os airos.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.