Saiba como os carros e as turbinas eólicas afectam o sapo-parteiro

Investigadores estudaram uma população de sapo-parteiro no Parque Natural de Somiedo, nas Astúrias, e descobriram que as vibrações no solo podem afectar o êxito reprodutivo destes anfíbios.

 

Os animais têm várias estratégias para comunicar entre si e para obter informação sobre o meio onde se encontram. Uma dessas estratégias é emitir sinais acústicos para a defesa do território, a procura de parceiro e para detectar presas, por exemplo.

Mas este comportamento pode ser afectado pelas vibrações do solo produzidas por actividades humanas como o tráfego nas estradas ou as turbinas eólicas, descobriu uma equipa de investigadores do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN). O artigo científico foi publicado a 22 de Janeiro na revista Scientific Reports.

“Os anfíbios são animais sensíveis às vibrações do substrato e os sinais acústicos são fundamentais para a sua reprodução e sobrevivência”, explicou, em comunicado Rafael Márquez, investigador do MNCN.

“Para estudar os efeitos deste tipo de contaminação ambiental na comunicação, seleccionámos o sapo-parteiro-comum (Alytes obstetricans) como objecto de estudo, um anfíbio importante na Península Ibérica, numa população natural do Parque Natural de Somiedo (Astúrias), não exposta previamente, a vibrações semelhantes”, acrescentou.

Na experiência, os investigadores incorporaram simuladores destas vibrações e analisaram os seus efeitos em diferentes parâmetros dos cantos que os machos emitem para atrair as fêmeas.

“Os resultados mostram uma redução na frequência de canto dos machos como resposta às vibrações no solo. Dado que as fêmeas preferem os machos que emitem cantos com maior frequência, isto poderá traduzir-se num menor êxito reprodutivo para os machos”, sublinhou Márquez.

“Com este estudo mostramos, pela primeira vez, que este tipo de contaminação tem um efeito negativo nos anfíbios.”

O investigador defende a necessidade de “continuar a investigar nesta linha para poder adoptar medidas de conservação adequadas”.

O sapo-parteiro-comum é uma das 22 espécies de anfíbios de Portugal. É mais fácil de observar no Norte e Centro do país (até ao rio Tejo), embora se encontre também na serra de São Mamede.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra mais aqui sobre os cantos do sapo-parteiro-comum, com a ajuda do biólogo Rui Rebelo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.