Solta de Nara no Vale do Guadiana, em Maio de 2017. Foto: Helena Geraldes

Saiba o que aconteceu ao lince-ibérico Marvel

O esforço de dois países para travar a extinção deste felino e assegurar o seu regresso à Península Ibérica sofreu um revés no final de 2018. Marvel foi encontrado morto na região andaluza de Córdova.

 

Marvel era um lince-ibérico macho com três anos de idade. Foi um dos linces reintroduzidos na natureza na Primavera de 2016, na zona do Vale de Guadalmellato (Córdova), para ajudar na conservação da espécie, Em Perigo de extinção.

A 28 de Dezembro foi encontrado morto nessa mesma zona, ainda com o colar que permitia aos conservacionistas seguir-lhe os movimentos.

Segundo uma nota do projecto Life+Iberlince, “Recuperação da distribuição histórica do lince-ibérico (Lynx pardinus) em Espanha e Portugal” (2011-2018), foram encontrados mais de 300 chumbos no corpo de Marvel, concluiu a necropsia.

Assim, acrescentam os responsáveis, “por detrás desta morte está a ação humana”.

Acontecimentos como este são “dramáticos para o esforço de 22 sócios e dos dois países envolvidos neste projecto” Iberlince, iniciativa que terminou em Dezembro passado, comentou o seu director, Miguel Ángel Simón.

A Federação Andaluza de Caça, sócio do projeto Iberlince, já condenou este acontecimento e anunciou, através do seu perfil no Twitter, que irá processar o(os) autor(es) deste ato. Acrescentou ainda que não se devem culpar os caçadores que praticam uma caça responsável e sustentável, mas sim o individuo responsável por este crime.

Quem também já reagiu foi a organização WWF em Espanha. O seu responsável pelo Programa de Espécies, Luis Suárez, lembrou que em 2017 morreram oito linces por furtivismo, um número que se deverá manter em relação aos dados de 2018. Ainda assim, salientou, o número de linces mortos por perseguição estará subestimado, uma vez que apenas se conhecem os casos de linces marcados com colar.

Suárez disse hoje à agência espanhola de notícias EuropaPress não conseguir compreender como pode alguém disparar até 300 chumbos sobre um animal numa área definida para a sua conservação.

Actualmente, a população mundial de lince-ibérico está estimada em 589 animais (448 dos quais na Andaluzia), de acordo com os dados do censo de 2017. O censo de 2018 está neste momento em curso. Mas, de acordo com os dados provisórios fornecidos à EuropaPress pelo Ministério espanhol para a Transição Ecológica, em 2018 terão nascido 125 linces; o número total de linces deverá subir até aos 650 indivíduos.

O projecto Iberlince II está a ser preparado e deverá ser apresentado durante este mês. Este projecto deverá apostar na ligação entre todas as populações de lince-ibérico, garantindo um intercâmbio de animais que assegure uma variabilidade genética a longo prazo.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.