Vespa. Foto: Pixabay

Saiba por que são as vespas tão valiosas quanto as abelhas

As vespas merecem ser tão valorizadas como outros insectos, como as abelhas, por causa dos seus papéis enquanto predadoras, polinizadoras e muito mais, revela um novo estudo do University College London.

O estudo, publicado a 29 de Abril na revista Biological Reviews, compilou dados de mais de 500 artigos científicos para rever como cerca de 33.000 espécies de vespas contribuem para os seus ecossistemas e como podem beneficiar a economia, a saúde humana e a sociedade.

“As vespas são uns daqueles insectos que nós adoramos odiar”, comentou, em comunicado, Seirian Sumner, principal autor do estudo e investigador do University College London. Já as abelhas, que também podem picar, são admiradas por polinizar as nossas culturas e por fazerem mel.

“Num estudo anterior concluímos que o ódio às vespas deve-se muito a uma ignorância generalizada sobre o papel das vespas nos ecossistemas e como podem ser benéficas para os humanos”. 

Segundo Seirian Sumner, as vespas são muito menos estudadas em relação a outros insectos como as abelhas. “Só agora estamos a começar a compreender o verdadeiro valor e importância dos seus serviços para os ecossistemas”, acrescentou o investigador.

As vespas são predadores de topo de outros insectos. A predação por insectos – como biocontrolo para proteger as culturas – está avaliada em, pelo menos, 346 mil milhões de euros por ano em todo o mundo. Ainda assim, este valor não leva em conta a contribuição da predação feita pelas vespas.

Este estudo avaliou de que forma o papel predador das vespas as torna valiosas para a agricultura. As vespas regulam as populações de afídios e lagartas que danificam as culturas. Uma vantagem extra é que as vespas solitárias tendem a ser especialistas, o que pode ser bom para gerir uma praga específica; já as vespas sociais são predadores generalistas e podem ser especialmente úteis no controlo de um conjunto de pragas que se alimentam de plantas agrícolas.

Os investigadores afirmam que as vespas podem ser usadas como formas sustentáveis de controlar pragas em países em desenvolvimento, especialmente nas zonas tropicais, onde os agricultores podem usar uma espécie local de vespa com um risco mínimo para o ambiente natural. Recentemente, Sumner e os seus colegas publicaram um artigo onde descobriram que espécies comuns de vespas são predadores eficazes que podem gerir pragas no milho e na cana-de-açúcar no Brasil. 

Esta investigação também se focou nos serviços de polinização das vespas. Os investigadores descobriram que as vespas visitam 960 espécies de plantas. Isto incluiu 164 espécies que são completamente dependente das vespas para a polinização, como algumas orquídeas.

Muitas vespas também são polinizadores generalistas que visitam uma grande variedade de plantas. Estas podem ser “polinizadores de último recurso” se uma planta perder o seu principal polinizador local.

Mas as vespas podem ter muitas outras mais-valias. Segundo esta equipa de investigadores, a saliva das vespas tem propriedades antibióticas e pode ser usada em medicamentos. O veneno de algumas vespas tem mostrado resultados promissores no tratamento do cancro. Além disso, acrescentam, as vespas podem ser uma fonte de alimento, o que já acontece em alguns países tropicais, que se alimentam das suas larvas.

“Ainda sabemos pouco sobre o valor das vespas para proteger as nossas culturas agrícolas”, comentou Alessandro Cini, co-autor do artigo e investigador da mesma universidade. “Esperamos que, ao reabilitar a sua reputação, possamos juntos valorizar ao máximo estas criaturas fascinantes.”

Neste momento, muitas espécies de vespas estão em declínio no mundo, por causa de alterações climáticas e perda de habitat. “É urgente tratar da sua conservação e garantir que os habitats continuem a beneficiar dos serviços dos ecossistemas que as vespas providenciam”, disse outro dos autores do estudo, Ryan Brock, da Universidade de East Anglia.

Esta investigação teve o apoio do Natural Environment Research Council e de uma bolsa Marie Curie da Comissão Europeia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.