Salinas de Olhão e Faro vão ter micro-ilhas para aves fazerem ninhos

Aumentar os locais disponíveis para as aves fazerem os seus ninhos e ao mesmo tempo requalificar as salinas e sapais de Olhão e Faro são os objectivos do projecto Bio-Ilhas, que começou em Junho.

O projecto, que começou em Junho e vai continuar até Fevereiro de 2023, vai estar a trabalhar na requalificação de salinas e de áreas lagunares de sapal em Olhão e Faro. O projeto vai ser implementado em salinas no Parque Natural da Ria Formosa, nomeadamente nas áreas salineiras entre aquelas duas localidades, e também em lagoas das ETAR de Olhão-Poente e Faro-Olhão.

“Este projeto visa recuperar ambientes degradados de sapais e salinas do Sotavento algarvio e promover a conservação de biodiversidade através da implementação de ilhas artificiais em tanques de salinas e lagoas de ETAR” (Estações de Tratamento de Águas Residuais), explicou, em comunicado enviado à Wilder, a Associação Vita Nativa – Conservação do Ambiente, responsável pelo projecto em parceria com a Associação Viridia – Conservation in Action.

As equipas do projecto vão criar uma série de ilhas artificiais que sejam atrativas para as espécies de aves nidificarem. “Estas ilhas em sistemas lagunares ou salinas são escassas em Portugal. O declínio populacional a que algumas das espécies-alvo vêem assistindo pode ser invertido com a implementação destas ilhas que visa, precisamente, a fixação de indivíduos que utilizem e se reproduzam com sucesso nestes locais”, explicam os responsáveis.

“O decréscimo nestas populações de aves está diretamente associado ao abandono das salinas e à grande pressão humana que se verifica nestes habitats”, acrescentam.

Borrelho-de-coleira-interrompida. Foto: Zeynel Cebeci/WikiCommons

Com a implantação destas ilhas e a requalificação de combros de salinas degradados, os peritos querem promover a fixação de populações de aves nidificantes, algumas com populações em declínio na Europa, como a chilreta (Sternula albifrons), a perdiz-do-mar (Glareola pratincola),o alfaiate (Recurvirostra avosetta), o borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), entre outras.

Também contribuirá para a fixação de dormitórios invernais de uma série de espécies de aves, nomeadamente espécies limícolas, aves que naquela região do Algarve se alimentam sobretudo em áreas de sapal durante a baixa-mar.

Os conservacionistas vão ainda recuperar a vegetação de sapal em zonas onde esta está extremamente degradada ou danificada.

O projecto prevê também ações pedagógicas dirigidas às comunidades locais, escolas e aos actores das atividades socio- económicas nas áreas a intervencionar, “parceiros fundamentais para o sucesso de projetos de promoção e conservação da biodiversidade”.

Este projeto conta com parceiros como o ICNF – Direção Regional da Conservação da Natureza e das Florestas do Algarve, as Águas do Algarve, a Necton – Companhia Portuguesa de Culturas Marinhas e as Salinas do Grelha – Segredos da Ria.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.