águia-imperial-ibérica em voo
Águia-imperial-ibérica. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons
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Se encontrar um animal selvagem envenenado, avise, apela a LPN

O apelo da Liga para a Protecção da Natureza surge agora porque, segundo a associação, “o início do ano coincide com um dos picos anuais de casos de envenenamento de animais selvagens”.

 

São 40 as espécies selvagens afectadas pelo uso ilegal de venenos em Portugal, alerta hoje a mais antiga associação de conservação da natureza do país, a LPN. Entre eles estão a águia-imperial (uma das aves de rapina mais ameaçadas da Europa e uma das mais raras do mundo), o lobo-ibérico e o lince-ibérico.

O veneno é uma arma usada há milhares de anos numa guerra contra os animais selvagens. É uma das maiores causas de mortalidade não naturais de espécies selvagens, apesar de estar proibido desde o final do século XX.

As razões são várias mas o resultado é sempre o mesmo. Um pouco por todo o país há veneno escondido nos campos e nas cidades e a morte surge mais ou menos rápida, mas sempre dolorosa.

De 2003 a 2014 morreram 145 indivíduos de espécies protegidas em Portugal, como a lince-ibérico Kayakweru, encontrada morta a 12 de Março de 2015 na zona de Mértola.

Entre 2013 e 2019, foram identificadas 11 águias-imperiais mortas com suspeita de envenenamento, a grande maioria na região do Baixo Alentejo, recorda o projecto LIFE Imperial, coordenado pela LPN.

O apelo da Liga surge agora porque, segundo a associação, “o início do ano coincide com um dos picos anuais de casos de envenenamento de animais selvagens”.

Embora aconteçam ao longo de todo o ano, os casos de suspeita de envenenamento são mais frequentes de Janeiro a Março e, mais tarde, em Outubro.

“Estamos assim, neste momento, num dos chamados “picos de veneno”, pelo que é essencial a atenção e colaboração de todos na deteção de possíveis casos.”

Em 2015, o projeto LIFE Imperial tornou possível a criação de sete equipas cinotécnicas da GNR vocacionadas para a deteção de venenos que estão a realizar patrulhas no campo. O objectivo é “evitar casos de potencial envenenamento ou, em caso de envenenamento comprovado, auxiliar à deteção de iscos ou cadáveres adicionais, actuando assim de modo preventivo e reactivo”.

Nas mais de 1.100 patrulhas foram já detetadas 29 ocorrências.

“Esta luta é um dos pilares do projecto que, apesar de direcionado para a águia-imperial-ibérica, terá certamente consequências benéficas para procurar erradicar esta ameaça silenciosa, mas mortífera.”

O envenenamento é uma das maiores ameaças às espécies necrófagas, que se alimentam de cadáveres de outros animais, como é o caso da águia-imperial-ibérica. Também o lobo-ibérico e o lince-ibérico registam casos de morte por envenenamento, “reduzindo ainda mais as suas já pequenas populações e o estado de equilíbrio dos ecossistemas”.

Além das espécies selvagens, esta prática ilegal afecta animais domésticos, podendo mesmo afetar acidentalmente seres humanos, e constitui um “grave problema de saúde pública ao nível da contaminação dos solos, dos recursos hídricos e mesmo de culturas alimentares, já que alguns tóxicos podem permanecer no ambiente durante longos períodos em doses suficientemente altas para serem perigosas”.

A LPN pede, então, a ajuda de todos. Até porque se acredita que apenas sejam detectados 10% dos animais vítimas dos iscos envenenados.

Quem encontrar um animal envenenado, ou supostamente envenenado, deve contactar imediatamente o SEPNA/GNR através da linha SOS Ambiente (808200520) e seguir as instruções dadas pelas autoridades.

“É extremamente importante informar sobre a existência de animais vivos e permanecer no local até à chegada das autoridades, e nunca deve tocar nos cadáveres ou iscos nem deixar que outras pessoas se aproximem do local.”

Em Portugal, o uso de veneno foi proibido no final do século XX, com a Lei do Lobo e a transposição de diretivas internacionais que impedem o uso de qualquer substância como forma de extermínio, constituindo atualmente, na medida mais gravosa, um crime punível com pena de prisão até três anos.

Em Abril de 2019, Portugal reforçou a luta contra os iscos envenenados, através do novo Programa Antídoto.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.