Leopardo Amur no jardim zoológico em Viena, Áustria. Foto: Alexander Leisser/Wiki Commons

Só restam 84 leopardos de Amur em estado selvagem

A China e a Rússia uniram esforços para obter a primeira estimativa rigorosa da população mundial do leopardo de Amur, da subespécie Panthera pardus orientalis. Concluíram que apenas restam 84 animais em estado selvagem, segundo um novo estudo científico.

 

A área de distribuição desta subespécie restringe-se à fronteira Sul da província russa de Primorskii e a província chinesa de Jilin. Foi nessa região, considerada a única onde existem estes animais, que cientistas da China, Rússia e Estados Unidos combinaram esforços para fazer uma estimativa populacional.

Os resultados foram divulgados a 19 de Junho num artigo da revista científica Conservation Letters.

Apesar de este ser um número baixo, anteriores estimativas eram ainda mais negras, dando conta de 25 a 50 animais na Rússia.

 

Leopardo Amur no Zoo de Filadélfia, EUA. Foto: Derek Ramsey/Wiki Commons

 

Mas estas estimativas anteriores basearam-se em censos feitos a partir de pegadas deixadas na neve. Esses vestígios “eram extremamente difíceis de interpretar devido à relação pouco clara entre o número de pegadas e o número de indivíduos”, explica a Wildlife Conservation Society (WCS) em comunicado.

Desta vez, os investigadores mudaram de estratégia e utilizaram câmaras de foto-armadilhagem. Com estes dispositivos, “cada indivíduo pôde ser identificado pelo seu padrão único de manchas, permitindo uma estimativa muito mais precisa”.

Outra inovação foi combinar os dados da Rússia e da China, o que ajudou a melhorar as estimativas.

“Curiosamente, cerca de um terço dos leopardos foram fotografados de ambos os lados da fronteira sino-russa”, salienta a WCS.

“Já sabíamos que os leopardos se movimentam através da fronteira, mas só quando combinámos os dados conseguimos compreender quanto movimento ocorre na realidade”, comentou Anya Vitkalova, bióloga no Parque Nacional Terra do Leopardo, na Rússia, e uma das autoras do estudo.

Ainda assim, há diferenças nas dinâmicas das populações na Rússia e na China. Actualmente, os leopardos estão a recolonizar habitat na China, dispersando a partir da Rússia onde os números parecem estar a atingir um pico máximo.

“Esta primeira estimativa rigorosa da população mundial de leopardo de Amur representa um excelente exemplo do valor da colaboração internacional”, comentou Dale Miquelle, co-autor e coordenador do Programa Tigre na WCS. “A confiança e a boa vontade geradas neste esforço conjunto dão as bases para futuras acções de conservação transfronteiriças.”

O leopardo de Amur está classificado desde 1996 como Criticamente Em Perigo de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Enfrenta inúmeras ameaças, desde a construção de novas estradas e empreendimentos, à caça ilegal, abate de florestas e alterações climáticas.

A WCS tem a decorrer na Rússia um programa para proteger a floresta e a tundra, bem como a miríade de espécies que dependem desses ecossistemas. Entre eles ursos, tigres, leopardos e corujas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.