Laurissilva
Floresta Laurissilva. Foto: João Sousa/Wiki Commons

Spea faz três sugestões para melhorar a natureza da Madeira

A poucos dias do arranque da campanha eleitoral para as legislativas regionais na Madeira, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) faz três desafios ao próximo executivo para melhorar a fauna e a flora locais.

A 22 de Setembro realizar-se-ão as eleições legislativas regionais na Madeira, sendo que a campanha eleitoral começa já a 8 de Setembro.

Para aproveitar a ocasião, a Spea avança três desafios mas não só. A organização também aponta críticas em relação ao trabalho do actual governo regional em matéria de proteção da natureza, lamentando “quatro anos de desinteresse e desinvestimento”, segundo um comunicado enviado ontem à Wilder.

A Spea considera “decisões gravosas” do executivo governamental nos últimos quatro anos o abate do pombo-trocaz, a libertação de coelho-bravo no Porto Santo e a disseminação deliberada de plantas invasoras. Tudo isto, acrescenta, “coloca em risco o vasto património natural da Madeira”.

“O arquipélago da Madeira possui áreas e espécies únicas que merecem não ter apenas o nome de protegidas, mas ser realmente geridas e preservadas”, diz Cátia Gouveia, coordenadora da Spea Madeira.

Para reverter melhorar a situação do mundo natural naquela região, a organização desafia o próximo programa de governo a suspender o abate anual do pombo-trocaz (também conhecido como pombo-da-madeira), espécie de ave protegida que ajuda a Laurissilva através da dispersão de sementes.

Esta “é uma espécie única no mundo e um ex-libris da Madeira para os observadores de aves e outros amantes da natureza que visitam a ilha todos os anos”, segundo a Spea.

Actualmente, salienta, o governo regional abate uma média de 350 aves por ano, como resposta às reclamações dos agricultores por prejuízos nas culturas provocados pelo pombo.

“Esta é uma medida errada pois viola a Diretiva Aves da União Europeia, não serve o interesse público e não resolve o problema dos agricultores”, entende a Spea.

As preocupações dos agricultores, que se mantêm ao fim de sete anos e de mais de 2.300 pombos abatidos, devem ter uma resposta séria, ao invés da solução fácil e ineficaz do abate de aves.

A Spea propõe antes a realização de uma “avaliação objetiva dos prejuízos nas culturas” e o acompanhamento dos agricultores na implementação de “métodos de afugentamento não letais e eficazes”.

Outro dos desafios é terminar com a disseminação de espécies exóticas invasoras, em especial o coelho-bravo e as plantas usadas para embelezar estradas, concretamente coroas-de-henrique e hortênsias.

A organização acredita “que os caçadores não querem ser responsáveis pela destruição do coberto vegetal natural da Madeira e do Porto Santo, e preferiam ver o governo a fomentar outras espécies cinegéticas em vez do coelho-bravo”.

“Do mesmo modo, o Governo Regional deveria valorizar o seu património natural, socorrendo-se da Laurissilva, que é rica em espécies arbustivas de grande beleza, para adornar as bermas das estradas, não sendo de todo necessário usar espécies invasoras.”

Na verdade, as espécies invasoras são a maior ameaça à conservação da biodiversidade da Madeira, com espécies únicas no mundo, acrescenta a organização.

O terceiro desafio é a não construção da estrada asfaltada prevista entre as Ginjas e os Estanquinhos, que poderá colocar pressão na floresta Laurissilva. “Esperamos que as futuras decisões considerem os elevados impactes que as ações de fragmentação acarretam sobre um habitat, já de si fustigado por ameaças, como a disseminação de espécies invasoras, a propagação de incêndios e as alterações climáticas.”

A Spea recorda “os investimentos avultados e o enorme esforço conjunto” para controlar espécies invasoras e reflorestar com flora nativa naquela área. Até porque, acrescenta, esta é uma “zona sensível que ainda está em recuperação”.

“Esperamos que todas estas temáticas constem do programa do próximo executivo do governo regional”, acrescentou Cátia Gouveia. “Esperamos que seja equacionado um maior investimento na conservação da natureza, com a proteção e gestão efetiva das nossas áreas naturais.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.