Oceanos. Foto: David Mark/Pixabay

SPEA, pescadores e população colaboram para travar pesca fantasma nas ilhas

Milhares de animais morrem todos os anos em redes, anzóis e outros apetrechos de pesca perdidos, que ficam à deriva no mar. Há um projecto em curso para travar esta pesca fantasma na Madeira, Açores e Canárias.

No Dia Mundial dos Oceanos, que se celebra a 8 de Junho, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) alerta para o perigo da pesca fantasma e dá a conhecer o projeto OceanLit, no terreno até 2022.

“Recentemente, encontrámos uma cagarra pendurada numa linha elétrica por um fio de pesca!”, contou, em comunicado, Cátia Gouveia, coordenadora da SPEA Madeira. “Supomos que o fio de pesca estivesse abandonado no mar e tenha ficado enrolado na ave. Ao voar para o seu ninho, a ave traria o fio pendurado e terá ficado presa à linha elétrica, numa armadilha letal.”

Foto: Tiago Dias/SPEA

Este é “um exemplo insólito, que trouxe para perto das pessoas uma realidade que normalmente passa despercebida, no mar alto, mas que não deixa por isso de ser preocupante.”

As linhas, redes e anzóis perdidos e deixados à deriva no mar transformam-se em armadilhas para aves, tartarugas marinhas e outros animais que nelas ficam feridos ou presos, acabando muitas vezes por morrer. “Esta pesca fantasma é uma parte significativa do lixo marinho que todos os anos mata cerca de um milhão e meio de animais nos oceanos de todo o mundo”, escreve a SPEA.

No âmbito do projeto Interreg OceanLit, a SPEA Madeira faz acções de sensibilização para pescadores e comunidades costeiras sobre a ameaça do lixo marinho, incentivando a que adoptem boas práticas de gestão de lixo, em terra e no mar.

Além disso, o projeto visa reduzir os resíduos no mar, promovendo a conservação e recuperação dos espaços naturais protegidos costeiros e marinhos. Procura “melhorar a gestão de resíduos, potenciando o envolvimento de profissionais, utilizadores e administrações nas áreas costeiras” e “melhorar as soluções para reduzir os resíduos”.

Este projeto de conservação da natureza é coordenado pela Universidade de Las Palmas de Gran Canaria (ULPGC) e tem parceiros em Espanha, nos Açores e na Madeira.

Na Madeira os parceiros são a Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas, a Secretaria Regional de Agricultura e Pescas, a Administração dos Portos da Região Autónoma da Madeira, S.A., a Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação e a SPEA Madeira. O projeto teve início em 2019 e terminará em 2022.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.