Tartaruga-comum. Foto: Funfood/Wiki Commons

Tartaruga marinha juvenil arroja em praia do Algarve

Uma tartaruga-comum arrojou já morta a 14 de Junho na praia de Cacela Velha, no concelho de Vila Real de Santo António. Investigadores da Universidade do Algarve descobriram de onde tinha vindo.

A notícia foi dada pela RAAlg – Rede de Arrojamentos do Algarve para cetáceos e tartarugas marinhas, um projecto de investigação da Universidade do Algarve, dedicado à recolha de informação sobre estes animais quando surgem arrojados mortos na costa algarvia.

“Ao recebermos o alerta e as fotografias por parte de uma cidadã que se encontrava no local, facilmente nos apercebemos que se tratava de uma tartaruga juvenil que tinha sido marcada e libertada com uma marca metálica”, explica a equipa da RAAlg, numa nota publicada no site.

Estas marcações costumam realizar-se no âmbito de estudos científicos para estudar as rotas migratórias e os movimentos dos animais.

A tartaruga em questão pertence à espécie Caretta caretta, conhecida como tartaruga-comum ou tartaruga-boba. Ao observarem o código da marca metálica que tinham encontrado no corpo do animal, e após alguns contactos, os cientistas trocaram finalmente informações com a Universidade de Valência. Perceberam que esta tartaruga juvenil tinha percorrido “um longo caminho desde a praia de El Saler, em Valência, onde foi marcada e libertada em dezembro de 2020, até chegar a águas algarvias”.

“Para além de todos os perigos que ultrapassou durante a viagem, esta audaz juvenil superou o desafio de sair do Mediterrâneo, vencendo a barreira causada pelas correntes do estreito de Gibraltar, até chegar à nossa costa”, adiantam, na nota publicada.

Percurso da tartaruga encontrada em Cacela Velha. Imagem: RAAlg

As tartaruras-comuns são as tartarugas marinhas que mais arrojam em Portugal Continental, apesar de não se reproduzirem nas costas portuguesas. Os adultos chegam a ter mais de 1,20 metros de comprimento e um peso máximo de 150 quilos, descreve a RAAlg. Medusas, esponjas, diferentes peixes, crustáceos e especialmente o caranguejo-pilado são as presas mais procuradas por estes répteis.

No entanto, chegar do Mar Mediterrâneo ao Atlântico “não é um percurso fácil” para os juvenis desta espécie, concluíram estudos científicos anteriores, em que se percebeu aliás que o sucesso da travessia está dependente de um tamanho mínimo da carapaça (39,5 centímetros de comprimento).

Para facilitar a tarefa, estas tartarugas tendem a viajar mais perto da costa, onde as correntes são menos fortes, e chegam mesmo “a entrar em rias, zonas estearinas e desembocaduras de rios.” Mas por se aproximarem tanto de terra ficam também mais sujeitas a outros perigos, como por exemplo a pesca acidental ou abalroamentos.

Neste caso, “a necrópsia realizada revelou-se inconclusiva”, mas a equipa de investigadores acredita que “a sua morte tenha sido traumática”, uma vez que a tartaruga se apresentava sem sinais de doença ou desgaste e bem alimentada.

Época das tartarugas

De acordo com a RAAlg, é na Primavera que acontece a “abertura da época da tartaruga”, devido aos muitos arrojamentos destes animais, em especial de tartarugas-comuns. É a partir de Abril que o aumento natural da temperatura das águas leva estes répteis a aproximarem-se mais da costa.

A maior parte das tartarugas que nadam junto à costa algarvia são juvenis. A costa algarvia, aliás, “é uma zona de passagem e de alimentação de excelência (‘hotspot’) para a tartaruga-comum”, adianta a equipa, que integra uma equipa técnica de biólogos marinhos do CCMAR – Centro de Ciências do Mar, que trabalham em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.

O projecto da RAAlg iniciou-se em Outubro de 2020, traduzindo-se na reactivação da rede de arrojamentos do Algarve, que estava desactivada desde 2017. Desde o reinício dos trabalhos, a equipa investigou 29 arrojamentos de tartarugas marinhas na costa algarvia, que representam 19,6 por cento do total de alertas recebidos, que incluíram também várias espécies de cetáceos e de aves marinhas.


Agora é a sua vez.

No caso de detectar um arrojamento na costa algarvia, preencha o formulário disponível aqui ou então telefone para estes contactos, para avisar a equipa do RAAlg.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.