Terá morrido a última águia-real residente em Inglaterra?

As esperanças já são poucas. Nas últimas semanas, ornitólogos têm procurado a última águia-real residente em Inglaterra na região do Lake District, onde costuma ser vista todos os anos. Esta Primavera não apareceu.

 

Esta águia é residente em Riggindale, em Cúmbria (no Lake District) desde 2001/2002 e tem estado sozinha desde a morte do seu par, em 2004.

A equipa da Royal Society for Protection of Birds (RSPB) já não a vê desde Novembro. “Nem sempre a ave é observada durante o Inverno mas na Primavera é normalmente vista a construir o ninho e a tentar atrair uma outra águia para formar um casal no seu território em Riggindale”, explicou ontem a RSPB, em comunicado.

“Quando a águia não apareceu no mês passado, pensámos que poderia estar a caçar num vale aqui perto. Mas nas últimas semanas temos vindo a perder a esperança”, comentou Lee Schofield, gestor da reserva natural da RSPB em Haweswater.

Este ornitólogo receia que a águia tenha morrido. “Talvez nunca venhamos a saber o que lhe aconteceu, mas ela tem cerca de 20 anos, uma idade avançada para uma águia. É muito possível que tenha morrido de causas naturais.”

O desaparecimento desta ave marca o fim de uma era, diz a organização. “Ela tem sido, nos últimos 15 anos, uma parte icónica da paisagem de Haweswater. Centenas de pessoas têm vindo de todo o país até aqui, na esperança de conseguir ver esta águia” no miradouro especial, chamado Riggindale Eagle Viewpoint. “Sem ela, o Lake District passou a ser um pouco menos selvagem.”

As águias-reais (Aquila chrysaetos) chegaram ao Lake District vindas da Escócia no final dos anos 50 do século XX. Em 1969 aconteceu a primeira nidificação de um casal em Haweswater. Entre 1970 e 1996 nasceram 16 crias nesta reserva e um segundo casal de águias criou no Lake District de 1975 a 1983, tendo conseguido quatro crias.

A RSPB receia que esta espécie não volte a nidificar em Haweswater tão cedo, mas tem em curso um programa de restauro de habitats, na esperança de a encorajar.

Em Portugal, esta águia está classificada como espécie Em Perigo, com cerca de 60 casais, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005). Nessa altura, esta águia residente no país, vivia nas serras do Noroeste, serras do Alvão e Marão, Alto Douro e Nordeste Transmontano, Alto Tejo e Bacia do Guadiana.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.