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Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

Torres Vedras melhora rios para conservar um dos peixes de água doce mais ameaçados do país

Sete troços dos rios Alcabrichel e Sizandro, no concelho de Torres Vedras, foram melhorados para conservar o ruivaco-do-oeste, um dos peixes de água doce mais ameaçados de Portugal.

O ruivaco-do-oeste (Achondrostoma ocidentale) é uma das espécies de peixe de água doce mais ameaçados em Portugal. O seu território mundial são três ribeiras dos concelhos de Torres Vedras e Mafra.

Esta é uma espécie classificada como Em Perigo de extinção, pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Entre as maiores ameaças à sua sobrevivência estão a poluição dos rios por esgotos domésticos e agrícolas e a extracção de águas fluviais.

Para ajudar a espécie, a autarquia de Torres Vedras começou em Outubro do ano passado a requalificar sete troços dos rios Sizandro e Alcabrichel. A ideia foi promover um aumento da resiliência desta espécie aos efeitos das alterações climáticas, criar corredores ecológicos favoráveis à sua movimentação e recuperar os seus habitats.

Mais concretamente, as intervenções, nos rios e nas suas margens, envolveram a “poda, corte de vegetação, desobstrução do leito, reparação e melhoria de caldeiras, colocação de estacas verticais para sustentação de plantas e retirada de rizomas [caule subterrâneo] de canas”, informou a autarquia numa nota divulgada na semana passada.

Um dos objectivos foi reduzir os obstáculos nos rios e assim “facilitar a movimentação da espécie”. O outro foi a plantação de espécies vegetais autóctones para criar sombra e aumentar a disponibilidade hídrica durante a época estival.

Esta é uma forma de ajudar o ruivaco-do-oeste a sobreviver durante o Verão.

A autarquia avançou que está prevista a criação de abrigos que este peixe poderá utilizar durante os meses de maior calor e uma acção de controlo da proliferação de gambúsia e do lagostim-vermelho-da-Louisiana, espécies aquáticas exóticas que põem em causa a estabilidade das populações de ruivaco-do-oeste.

Mas as intervenções não beneficiam apenas esta espécie. Segundo a autarquia, “a desobstrução do canal levará ainda ao decréscimo dos riscos de cheia e de erosão dos terrenos adjacentes”.

As intervenções no rio Sizandro decorreram junto ao Parque Verde de Runa, à Quinta da Granja e à Quinta da Portucheira. Já no rio Alcabrichel decorreram em troços junto ao Ecoparque da Macieira (no Maxial), às instalações do Grupo Valouro, à Quinta do Paço e à Quinta de Vila Facaia.

A intervenção insere-se na operação “Ruivaco-do-Oeste – Gestão Ativa da Espécie e do Ecossistema” aprovada pelo Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos – POSEUR, que tem como objetivo promover a gestão ativa da espécie de peixe ruivaco-do-oeste e do seu ecossistema ripícola.

Nos últimos anos têm sido libertados centenas de ruivacos-do-oeste, criados em cativeiro, no rio Alcabrichel e no rio Sizandro, no âmbito de um projecto que pretende travar a extinção da espécie, através do reforço das populações selvagens.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.