Toutinegras que não migram têm comportamentos mais agressivos

Investigadores espanhóis e italianos estudaram a toutinegra-de-barrete e concluíram que, numa mesma espécie de aves, as que não migram são mais agressivas do que as que o fazem.

 

A toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla) é uma das aves migradoras mais comuns da Europa. Tem cerca de 15 centímetros de comprimento e um canto dos mais melodiosos. É comum numa mesma região encontrarem-se toutinegras residentes e migradoras, vindas do Centro e Norte da Europa.

 

 

Agora, uma equipa internacional de investigadores, coordenados pela Universidade Complutense de Madrid (UCM), publicaram na revista Animal Behaviour um estudo sobre as diferenças de comportamento entre as aves migradoras e as residentes nos campos da região de Serpis de Alcoy, em Alicante (na Comunidade Valenciana).

“As toutinegras-de-barrete residentes ‘ganham’ nos confrontos com as migradoras”, diz Michelangelo Morganti, principal autor do artigo e investigador do Departamento de Zoologia e Antropologia Física daquela universidade, à agência espanhola SINC. “Apesar de serem mais pequenas mostram um comportamento mais agressivo.”

Os investigadores explicam esta atitude com o facto de estas aves residentes terem de defender o seu território de nidificação ao longo de todo o ano. Graças à sua “valentia” conseguem aceder primeiro às fontes de alimento no Inverno.

Além disso, os cientistas descobriram, através de radiotelemetria para seguir as toutinegras, que as aves residentes não saem muito da sua área de reprodução e que, no Inverno, tendem a explorar recursos alimentares mais variados do que as aves migradoras, possivelmente porque conhecem melhor o território.

Em Portugal, a toutinegra-de-barrete é residente, migradora de passagem – aves a caminho de Marrocos e África subsariana, especialmente a partir de Setembro – e invernante muito comum (entre Setembro e Março), segundo o livro “Aves de Portugal”. O seu alimento preferido são os insectos mas nos meses mais frios pode alimentar-se de frutos e bagas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.