Três linces-ibéricos libertados em Mértola

Duas fêmeas, Myrtilis e Mirandilla, e um macho, Monfrague, são libertados nesta segunda-feira em Mértola. Começa assim o segundo ano de reintrodução de linces-ibéricos em Portugal, no âmbito de um esforço ibérico para devolver a espécie aos seus territórios históricos.

 

Myrtilis nasceu no Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico em Cativeiro, em Silves, e o seu nome foi escolhido este mês pela população de Mértola. Mirandilla é uma fêmea que nasceu no Centro de Reprodução em Cativeiro La Olivilla, em Espanha. Ambos os animais nasceram em 2015 e “serão libertados por solta branda no cercado de adaptação”, na Herdade das Romeiras, em S. João dos Caldeireiros, no concelho de Mértola, segundo um comunicado lançado hoje pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Além destas duas fêmeas também é libertado o macho Monfrague, nascido em 2015 no Centro de Reprodução em Cativeiro La Olivilla. Este lince é libertado por solta dura, ou seja, directamente na natureza sem ser num espaço controlado.

Estes animais são libertados no âmbito do projecto LIFE “Recuperação da Distribuição Histórica do Lince Ibérico (Lynx pardinus) em Espanha e Portugal”, a decorrer até 2017.

O grande objectivo é o “estabelecimento de uma população selvagem e viável, numa área geográfica que já foi parte da sua área de distribuição histórica”, explica o ICNF. Para ajudar a esta meta, este ano serão libertados entre Janeiro e Abril um total de 48 linces em sete regiões: nove no Vale do Guadiana (seis fêmeas e três machos), nove no Vale de Matachel (Badajoz), 10 nos Montes de Toledo (Toledo), nove na Serra Morena Oriental (Ciudad Real), cinco em Guadalmellato, cinco em Guarrizas e um como reforço genético das populações em Doñana.

No caso do lince-ibérico, “uma população viável será alcançada quando se obtiverem cerca de 50 fêmeas estabilizadas no território, o que se espera prosseguir com esta segunda fase do processo de reintrodução”.

Desde o início das primeiras reintroduções, que começaram na Andaluzia, já foram libertados 124 linces-ibéricos: 83 na Andaluzia, 22 em Castela-La Mancha, 10 na Estremadura espanhola e nove em Portugal.

Neste momento em Portugal, as equipas de técnicos do projecto seguem os nove linces libertados em 2014/2015 no Vale do Guadiana: Katmandu, Jacarandá, Kempo, Loro, Liberdade, Lluvia, Lagunilla, Luso e Lítio. Entretanto, outros dois linces estarão em Portugal, vindos de Espanha: Kahn e Kentaro.

O ICNF garante que este processo “não prevê quaisquer restrições ou limitações às atividades agrícola, florestal, turística e cinegética”.

Segundo o projecto Iberlince, este ano “todas as áreas de reintrodução estão a funcionar de forma adequada”. Como prova lembra que em Abril de 2015, “dez meses depois da reintrodução do primeiro lince-ibérico no Vale de Matachel (em Badajoz), uma das fêmeas libertadas deu à luz as primeiras crias de lince-ibérico nascidas em liberdade fora da Andaluzia”.

E no início deste mês, os técnicos do Iberlince revelaram ter sido apanhados de surpresa por uma ninhada de cinco crias, na natureza, na Serra de Andújar (Andaluzia).

O lince-ibérico (Lynx pardinus) é uma espécie que, até ao ano passado, estava classificada como “Criticamente em Perigo”. Em Junho de 2015, a União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) passou a espécie para a categoria “Em Perigo”. Dos 52 linces-ibéricos adultos em 2002 existiam 156 em 2012. Hoje serão mais de 300.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Fique a par do que está previsto acontecer este ano e recorde os principais marcos na história da conservação da espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.