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Grande Barreira de Coral, um dos recifes mais conhecidos do mundo, na Austrália. Foto: Ryan McMinds / Wiki Commons

Turismo e cidadãos anónimos financiam expedição de cientistas na Grande Barreira de Coral

A primeira grande expedição científica a uma das áreas mais remotas da Grande Barreira de Coral, na Austrália, fortemente afectada por episódios de branqueamento, vai ser financiada por uma empresa privada de turismo e por doações online.

 

O anúncio foi feito pela Great Barrier Reef Legacy, uma organização ambientalista, que vai coordenar esta expedição a bordo de um navio alugado com 32 metros de comprimento, durante 21 dias, conta o The Guardian.

A bordo haverá lugares para 10 cientistas, que vão investigar os chamados “super corais” – corais que resistem melhor aos efeitos do aumento das temperaturas do mar – para tentar perceber como é que isso acontece.

Charles Veron, antigo cientista-chefe do Instituto de Ciência Marinha da Austrália e conhecido como o “padrinho dos corais”, é apontado como responsável pela descoberta de 20% das espécies de corais no mundo e é um dos investigadores que vão estar nesta viagem.

Avaliar o estado de saúde do ecossistema destes recifes, que se estendem ao longo de 2.300 quilómetros, é outro dos objectivos da expedição – em especial depois dos graves episódios de branqueamento ocorridos em 2016 e 2017.

Esta vai ser a primeira observação mais directa do que aconteceu nas áreas mais a norte da Grande Barreira, depois dos episódios de branqueamento já ocorridos em 2017.

Da parte da Northern Escape Collection, uma companhia privada de alojamentos turísticos, a viagem científica vai receber mais de 106.000 euros (160.000 dólares australianos), além do uso de uma embarcação.

“Foi uma decisão fácil para a Northern Escapade Collection suportar esta iniciativa, uma vez que estamos alarmados com os episódios recentes de branqueamento ocorridos nos últimos dois Verões e estamos muito preocupados com a saúde do recife em geral”, disse Hayley Morris, director-executivo da empresa de turismo, citado pelo The Guardian.

“Acreditamos que quanto mais informação o público tiver, mais pressão irá colocar sobre os políticos para actuarem  no sentido de protegerem a área.”

Até agora, os organizadores da expedição receberam também cerca de 20.000 euros em doações do público, no âmbito de uma campanha de ‘crowdfunding’ que ainda continua.

A viagem já tem início marcado para Novembro deste ano.

Em Abril, uma equipa de cientistas do Australian Research Council’s Centre of Excellence for Coral Reef Studies, da Universidade James Cook, estimou que o branqueamento de corais abrange actualmente dois terços da Grande Barreira de Coral.

O branqueamento acontece quando o aquecimento da água leva os corais a expelirem as algas microscópicas que vivem dentro dos seus tecidos e que lhes dão as cores vivas, ficando por isso esbranquiçados. Os cientistas calculam que os corais podem morrer seis a 12 meses depois deste fenómeno.

 

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.