Pardal-comum. Foto: Tim/Pixabay

UE perdeu 600 milhões de aves reprodutoras desde 1980

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Um novo estudo sobre as aves reprodutoras na União Europeia (UE) conclui que se perderam uma em cada seis aves num período de quase 40 anos, o que se traduz numa perda total de 600 milhões de aves desde 1980, revela a Birdlife International.

Equipas de investigadores da RSPB (Royal Society for Protection of Birds), da Birdlife International e da Sociedade Checa de Ornitologia analisaram dados de 378 das 445 espécies de aves nativas da Europa.

Segundo este novo estudo, publicado a 15 de Novembro na revista Ecology and Evolution, entre 1980 e 2017, a população global de aves europeia registou um declínio de entre 17% e 19%, o que equivale a uma perda de entre 560 e 620 milhões de aves individuais. “Na verdade, cerca de 900 milhões de aves perderam-se durante esse período, contudo isso aconteceu ao mesmo tempo em que aumentaram cerca de 340 milhões de aves de algumas espécies”, explica a Birdlife International em comunicado divulgado a 16 de Novembro.

Das 378 espécies estudadas, 175 estão em declínio.

As oito espécies com os maiores declínios:

  • Pardal-comum
  • Alvéola-amarela
  • Estorninho-malhado
  • Laverca
  • Felosa-musical
  • Chamariz
  • Pintarroxo
  • Pardal-montês

Uma proporção significativa destas perdas resultam das reduções massivas de um reduzido número de espécies de aves outrora mais comuns e abundantes.

Pardal-comum. Foto: Tim/Pixabay

O pardal-comum (Passer domesticus) registou o maior declínio populacional, com menos 247 milhões de indivíduos. A segunda espécie com maior declínio foi a alvéola-amarela (Motacilla flava), com menos 97 milhões, logo seguido do estorninho-malhado (Sturnus vulgaris) com 75 milhões e da laverca (Alauda arvensis), com 68 milhões.

Este estudo foi feito com dados do sistema pan-europeu de seguimento de aves comuns do Conselho Europeu do Censo de Aves e dos relatórios que os Estados membros da UE têm de entregar à Comissão Europeia, no âmbito da Directiva Aves.

O que se passa com o pardal-comum?

Outrora uma das aves mais comuns, o Passer domesticus tem sido a ave mais afectada. “Perdeu 50% da sua população desde 1980, num total de 247 milhões de aves”, segundo a Birdlife International.

Já o pardal-montês (Passer montanus) perdeu 30 milhões de aves. Ambas as espécies têm sido afectadas por mudanças nas políticas agrícolas. Mas a verdade é que também os pardais das cidades estão em declínio.

“As razões por detrás deste declínio urbano ainda não são claras mas podem estar relacionadas com a perda de alimento, com o alastrar da malária nas aves ou com a poluição atmosférica.”

“Aves comuns estão a tornar-se cada vez menos comuns, em grande parte porque os espaços dos quais dependem estão a ser destruídos pelos humanos”, comentou Ana Staneva, responsável interina pela Conservação na Birdlife Europe. “A natureza tem sido erradicada dos nossos campos agrícolas, dos mares e das cidades.”

Se compararmos as populações por tipo de habitat, as maiores perdas registaram-se nas aves agrícolas e dos prados.

Pintassilgo. Foto: Dimitrisvetsikas1969/Pixabay

E enquanto grupo, os migradores de longas distâncias – como a felosa-musical (Phylloscopus trochilus) e a alvéola-amarela (Motacilla flava) – e as aves costeiras também registaram maiores declínios do que outros grupos.

Boas notícias

Muito do declínio no número de aves aconteceu nas décadas de 1980 e 1990. Mas na última década, o ritmo abrandou. Segundo os autores do estudo isso deveu-se à protecção dada às aves pela legislação da UE e por medidas de melhoria de habitats.

As oito espécies com os maiores aumentos:

  • Toutinegra-de-barrete-preto
  • Felosa-comum
  • Melro-preto
  • Carriça
  • Pintassilgo
  • Pisco-de-peito-ruivo
  • Pombo-torcaz
  • Chapim-azul

Por exemplo, sete espécies de aves de rapina aumentaram nas últimas décadas, como consequência do aumento da sua protecção e de medidas direccionadas de conservação e redução de pesticidas e da perseguição.

Para a Birdlife International, este estudo é mais uma prova de que é essencial fazer mais conservação a larga escala. “Há uma necessidade urgente de conservar as aves associadas à agricultura, bem como as aves migradoras de longas distâncias nas suas viagens migratórias.”

“Para o próximo ano, a Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica vai reunir-se para debater o futuro da nossa biodiversidade global e criar uma estratégia que permita aumentar os esforços de conservação direccionados a evitar extinções e a recuperar a abundância de espécies”, comentou Fiona Burns, cientista sénior da RSPB.

Chapim-azul. Foto: TheOtherKev/Pixabay

“O nosso estudo é uma chamada de atenção para a ameaça real das extinções e de uma Primavera Silenciosa. Somos totalmente a favor de garantir um quadro forte que ponha a conservação à frente e no centro de qualquer plano global”, acrescentou.

Uma das formas de o conseguir é através de uma “acção transformadora por toda a sociedade”, por exemplo a nível de uma agricultura amiga da natureza, da protecção das espécies, de uma gestão florestal e de pescas sustentável e do rápido aumento da rede de áreas protegidas.

Para Ana Staneva, responsável interina pela Conservação na Birdlife Europe, não há dúvidas: “a natureza está a fazer soar os alarmes. Enquanto que a protecção das aves que já são raras ou ameaçadas resultou em algumas recuperações bem sucedidas, isso não parece ser suficiente para sustentar as populações das espécies abundantes”.

Na sua opinião, “os Governos de toda a Europa têm de definir metas vinculativas para o restauro da natureza, caso contrário as consequências serão severas, mesmo para a nossa própria espécie”.


Agora é a sua vez.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.