Oceanos. Foto: Mobibit/Pixabay

UICN alerta que oceanos estão a perder oxigénio a um ritmo nunca antes visto

Tubarões, atuns, espadartes e outros grandes peixes estão entre os mais ameaçados pela expansão das “zonas mortas”, avisa um novo relatório da UICN revelado em Madrid.

As regiões do oceano com baixas concentrações de oxigénio estão a expandir-se. Hoje conhecem-se em todo o mundo cerca de 700 sítios afectados por este problema, em relação aos 45 na década de 60 do século XX.

No mesmo período, o volume de águas completamente desprovidas de oxigénio nos oceanos quadruplicou, segundo o relatório “Ocean deoxygenation: everyone’s problem”, conhecido sábado passado em Madrid, durante a COP25, conferência climática das Nações Unidas.

Esta escassez de oxigénio nos oceanos está já a alterar o equilíbrio da vida marinha, alerta este relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

“À medida que o oceano cada vez mais quente perde oxigénio, o delicado equilíbrio da vida marinha é atirado para o caos”, comentou Grethel Aguilar, directora-geral da UICN, em comunicado.

Tubarões, atuns, espadartes e outros grandes peixes estão especialmente em risco e muitos ecossistemas cruciais estão em perigo de entrar em colapso.

Todos os peixes precisam de oxigénio dissolvido, mas as espécies maiores são particularmente vulneráveis a uma escassez por causa do seu tamanho grande e das necessidades energéticas. Estas espécies começam a ser obrigadas a aproximar-se da superfície e de mares menos profundos, onde ficam mais vulneráveis à pesca.

Entre as espécies mais tolerantes a baixos níveis de oxigénio estão as medusas, algumas lulas e micróbios marinhos. Estas podem expandir-se, num cenário com menos predadores (os peixes) e alterar o equilíbrio dos ecossistemas.

Espera-se que os oceanos percam entre 3% e 4% do seu oxigénio até ao final deste século. Mas o impacto será muito maior nas águas mais junto à superfície, onde muitas espécies se concentram.

“Os desastrosos efeitos potenciais nas pescas e nas comunidades costeiras significam que as decisões tomadas na conferência são ainda mais vitais”, acrescentou Grethel Aguilar. “Para travar a perda de oxigénio nos oceanos e outros impactos desastrosos das alterações climáticas, os líderes mundiais têm de se comprometer com reduções imediatas e substanciais das emissões”, defendeu.

As principais causas da perda de oxigénio nos oceanos são as alterações climáticas e a poluição por nutrientes.

Baixos níveis de oxigénio estão associados com o aquecimento global porque a água mais quente contém menos oxigénio e o calor causa a estratificação, ou seja, há menos mistura das camadas ricas e pobres em oxigénio.

A poluição por nutrientes leva à perda de oxigénio nas águas costeiras porque os fertilizantes, efluentes e resíduos da aquacultura causam o crescimento excessivo de algas que, por sua vez, esgotam oxigénio quando se decompõem.

“Apesar de já conhecermos há décadas as chamadas ‘zonas mortas’ no oceano, o aumento da temperatura das águas deverá agora ampliar o processo de perda de oxigénio em vastas áreas do oceano”, disse Isabella Lovin, ministra sueca do Ambiente e Energia. “Com este relatório, chegou a altura de pôr a perda de oxigénio nos oceanos como entre as nossas maiores prioridades, a fim de restaurar a saúde dos oceanos.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.