Rinoceronte-negro-do-Sudeste. Foto: Richard Emslie

UICN anuncia (pequena) vitória para conservação do rinoceronte africano

O rinoceronte-negro africano continua a ser uma espécie Criticamente Em Perigo de extinção, mas a sua população começa a aumentar lentamente, segundo a nova actualização da Lista Vermelha da UICN, conhecida hoje.

 

Entre 2012 e 2018, a população de rinoceronte-negro (Diceros bicornes) em África cresceu a um modesto ritmo anual de 2,5%, de uns estimados 4.845 para 5.630 animais, respectivamente, informa a União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), em comunicado.

Para os próximos cinco anos, os modelos populacionais prevêem a continuação de um ligeiro aumento.

“Os rinocerontes de África não estão, nem por sombras, salvos da extinção. Mas a recuperação, ainda que lenta, das populações de rinoceronte-negro é uma prova dos imensos esforços feitos nos países onde a espécie ocorre e um poderoso testemunho para a comunidade mundial de que a conservação funciona”, comentou Grethel Aguilar, directora-geral da UICN.

 

Rinoceronte-negro-do-Sudeste. Foto: Richard Emslie

 

Ainda assim, acrescentou, “a caça ilegal e o tráfico continuam a ser ameaças muito graves”. Por isso, entende ser necessária a continuação das medidas contra a caça ilegal e para uma gestão pro-activa das populações destes animais.

O aumento das populações de rinoceronte-negro em África explica-se, principalmente, pelos esforços persistentes para fazer cumprir as leis de conservação e pelas medidas de gestão das populações destes animais, incluindo a transferência de rinocerontes selecionados para outros núcleos a fim de aumentar a área de distribuição da espécie.

Uma das sub-espécies de rinoceronte-negro, o rinoceronte-negro-do-Sudoeste (Diceros bicornes bicornis) – anteriormente classificada como Vulnerável – tem registado um aumento nas últimas três gerações, tido como suficiente para passar a ser classificado agora como Quase Ameaçado.

As outras duas sub-espécies restantes – o rinoceronte-negro-do-Sudeste (Diceros bicornes minor) e o rinoceronte-negro-oriental (Diceros bicornes michaeli) – permanecem ambas na categoria de Criticamente Em Perigo de extinção, depois de pesados declínios entre as décadas de 1970 e de meados de 1990.

“Apesar de todas as três sub-espécies que sobrevivem nos nossos dias estarem no caminho de uma recuperação, ainda que lenta, continuam dependentes de esforços continuados de conservação”, alerta a UICN.

 

Rinoceronte-negro, Tanzânia. Foto: Richard Emslie

 

Quanto à outra espécie de rinoceronte africano, o rinoceronte-branco (Ceratotherium simum), esta continua a ser classificada como Quase Ameaçada na Lista Vermelha da UICN.

Os números da sub-espécie rinoceronte-branco-do-Sul (Ceratotherium simum simum) registaram um declínio de 15% entre 2012 e 2017, caindo de 21.300 para 18.000 animais. Isto deveu-se, principalmente, aos elevados níveis de caça ilegal no Parque Nacional Kruger, na África do Sul, área protegida que alberga a maior parte da população de rinoceronte-branco.

A outra sub-espécie de rinoceronte-branco, o rinoceronte-branco-do-Norte (Ceratotherium simum cottoni), continua Criticamente Em Perigo de extinção.

O maior perigo para as duas espécies de rinocerontes africanos continua a ser a caça ilegal para responder à procura internacional de corno de rinoceronte.

Ainda assim, as fortes medidas de combate a este flagelo adoptadas nos últimos anos por vários países, gestores privados e pelas comunidades têm tido um “efeito positivo”, constata a UICN. Depois de um pico em 2015 – quando pelo menos 1.349 rinocerontes foram alvo dos caçadores furtivos – os números têm vindo a diminuir todos os anos. Em 2018 registaram-se, pelo menos, 892 rinocerontes vitimados.

A Lista Vermelha da UICN inclui agora 116.177 espécies, das quais 31.030 estão ameaçadas de extinção.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.