Tubarão-azul. Foto: Mark Conlin/NMFS/WikiCommons

Um terço das espécies de tubarões e raias estão em risco de extinção

Um terço das 1.199 espécies de tubarões, raias e quimeras estão em vias de extinção, segundo resultados recentes de uma revisão dos dados da União Internacional da Conservação da Natureza (UICN), publicados na revista científica Current Biology.

Foram identificados pelo menos oito casos de extinção local, que se sobrepõem a zonas de pesca intensiva. Uma espécie de tubarão (Carcharhinus obsoletus) e duas de raia (Urolophus javanicus e Torpedo suessi) classificadas como Criticamente em Perigo poderão estar potencialmente extintas, pois não são avistadas há mais de 80 anos. Para os 24 autores que assinam esta revisão, poderá tratar-se da primeira extinção global de peixes marinhos devida à sobre-pesca. 

Entre os vertebrados, o grupo dos peixes cartilagíneos (que inclui tubarões, raias e quimeras) é o segundo (a seguir aos anfíbios) com maior risco de extinção.

Actualmente, 391 espécies estão dadas como ameaçadas, mais do dobro das 181 consideradas em 2014, aquando da realização da primeira análise global. Destas, 90 enfrentam risco extremamente elevado de extinção na natureza e por isso estão classificadas como Criticamente em Perigo.

As raias são o grupo funcional mais ameaçado, seguindo-se os tubarões e as quimeras. Ainda que em menor percentagem do que na avaliação inicial (46,8%), há ainda uma significativa parte de espécies (13%) cuja informação não é suficientemente robusta para atribuir um estatuto de conservação e por isso estão classificados como “Dados Insuficientes”.

“Uma das maiores dificuldades em avaliar estas espécies consiste em reunir uma informação completa, porque a grande maioria dos dados é baseada nos desembarques de pesca comercial”, revela João Correia, professor adjunto da Escola Superior de Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria e investigador do MARE. “Os dados não têm a desagregação necessária ou as espécies não estão bem identificadas.”

“Muitas tintureiras e anequins são capturados nas pescarias do espadarte e atum. Mas como os anzóis usados nestas pescarias capturam essencialmente peixes grandes, acaba-se por não ter um total conhecimento das fases juvenis”, exemplifica João Correia.

Em Portugal, dada a extensão das suas águas soberanas e a riqueza de habitats, é possível encontrar 89% das espécies existentes na Europa e 9% das mundiais, de acordo com um relatório técnico de 2021, da Associação Natureza Portugal/WWF.

Todavia, em Portugal a percentagem de espécies de tubarões e raias que estão ameaçadas é superior à percentagem mundial. No nosso país “a situação é ainda pior, pois das 117 espécies existentes, 43% estão ameaçadas“, alerta Ana Henriques, da ANP/WWF (Associação Natureza Portugal (ANP), associada à WWF).

“Cerca de 60 espécies estão registadas como tendo sido capturadas pela frota portuguesa. Destas, 25 espécies de tubarões e cinco de raias estão ameaçadas. As características biológicas dos tubarões e raias – predadores de topo,  maturação tardia, gestações longas e baixa descendência – tornam-nos especialmente vulneráveis a elevados níveis de pesca”, acrescenta a responsável.

Além da pesca, também as alterações climáticas, poluição e perda de habitats parecem estar a afectar tubarões e raias. A desoxigenação de determinadas zonas do oceano, consequência do aumento da temperatura média, sobretudo nas águas tropicais é um fenómeno que tem vindo a ser descrito. Num estudo publicado este ano, cientistas nacionais e estrangeiros descobriram que em resposta a este fenómeno – que tipicamente se dá entre os 200 e os 800 metros de profundidade – para outras zonas do Oceano, as tintureiras (Prionace glauca) estão a “ser empurradas” para a superfície, potenciando a sua vulnerabilidade à sobre-pesca.

Ana Henriques considera, por isso, que “é urgente e necessária uma abordagem integrada para a gestão e conservação dos tubarões em Portugal e não só medidas ad-hoc que vão sendo incluídas na legislação nacional via UE (União Europeia) ou em situações críticas, quando pouco se consegue fazer. “

Para João Correia, “a recente proibição de captura e desembarque, pela Direção Geral dos Recursos Maritimos, do tubarão anequim [espécie Em perigo], é uma grande vitória e de elevada importância”.

No entanto, para que seja eficaz, o investigador e também signatário da carta pública enviada ao Comissário Europeu do Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevičius, salienta que “a proibição, que vigora apenas até final do ano, deve ser prolongada e incluir as espécies  Isurus paucus e Isurus oxyrinchus”, e acrescenta: “A proibição dos desembarques de tubarões de profundidade não deve ser levantada; dever-se-iam estender as medidas existentes para outras espécies de raias e os cações e os pata-roxas também deveriam ser protegidos”.

Ana Henriques vê a Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030, como uma “oportunidade importante para a criação de um Plano de Acção Nacional para a recuperação, gestão e conservação dos tubarões e raias que integre as várias ameaças e defina objectivos adequados à realidade nacional passíveis de serem medidos quanto ao seu sucesso de implementação num espaço de tempo definido e alinhados com a legislação existente”.