Foto: WWT

Uma das aves mais raras do mundo ganhou uma nova casa

O zarro-de-Madagáscar (Aythya innotata) é uma das aves mais raras do mundo, restando menos de 50 indivíduos. Um projecto internacional para resgatar a espécie da extinção acabou de lhe dar uma nova casa.

 

Uma equipa internacional libertou 21 destes patos, Criticamente Em Perigo de extinção, num lago no Norte de Madagáscar, anunciou hoje a organização Wildfowl and Wetlands Trust (WWT), em comunicado.

 

Foto: WWT

 

Esta é apenas uma etapa no lento caminho da recuperação do zarro-de-madagáscar, espécie que na década de 1990 se acreditava extinta, depois de não ser observada durante 15 anos.

A esperança para esta espécie renasceu quando, de forma surpreendente em 2006, foram encontrados 25 destes patos num lago remoto daquele país, o lago Sofia. Seriam os últimos da sua espécie em todo o planeta.

Desde então, os especialistas começaram a planear a reintrodução desta espécie na natureza.

Agora, no âmbito desta operação de conservação da natureza, 21 patos passaram uma semana na segurança de aviários flutuantes no Lago Sofia, no Norte do país. Assim, as aves terão tempo para se adaptar ao novo ambiente, aumentando as hipóteses de permanecerem no local depois de serem libertadas. Segundo um comunicado do WWT, “o estado das zonas húmidas em Madagáscar é tão mau que seria muito difícil estes animais sobreviverem se deixassem o lago”.

Os zarros-de-madagáscar foram libertados dos aviários flutuantes este mês e “adaptaram-se muito rapidamente ao lago, mergulhando e voando, juntando-se a outros patos selvagens, e regressando à segurança dos aviários flutuantes para se alimentarem e abrigarem”.

Este é o resultado de vários anos de trabalho de preparação, um esforço que reuniu especialistas do WWT, do Durrell Wildlife Conservation Trust, do Peregrine Fund e do Governo de Madagáscar às comunidades que vivem nas margens do Lago Sofia e que dependem das suas águas, peixes e plantas.

 

Foto: WWT

 

“Temos estado a preparar este momento há mais de uma década”, contou Nigel Jarrett, responsável pelo programa de reprodução do WWT. “A logística de trabalhar numa zona remota de Madagáscar – onde o acesso ao lago por carro só é possível três meses num ano – tem sido um desafio enorme”, acrescentou.

“Trabalhar com as comunidades locais para resolver os problemas que estavam a empurrar esta ave para a extinção tem sido essencial para dar ao zarro-de-madagáscar uma hipótese de sobrevivência.”

Estas aves passam a maior parte do seu tempo na água e, mais importante, alimentam-se debaixo de água. Por isso, foi concebido um plano para converter caixas escocesas de aquacultura de salmão nos primeiros aviários flutuantes do mundo. Depois de testes realizados com sucesso em 2017, os aviários foram enviados do Reino Unido para Madagáscar e foram instalados no Lago Sofia neste Verão.

A equipa internacional resgatou vários ovos desta espécie e depois cuidou deles em cativeiro. Os ovos eclodiram em Outubro e os patinhos foram transportados ao lago de 200 quilómetros para o lago e criados em aviários nas suas margens. No início de Dezembro, mesmo antes de serem capazes de voar, foram levados para os aviários flutuantes.

A libertação destes zarros – projecto apoiado por inúmeras entidades, desde o Disney Conservation Fund à National Geographic Society – surge no âmbito de um plano de longo prazo para restaurar as zonas húmidas de Madagáscar. Nos últimos anos, as organizações que trabalham neste projecto têm colaborado com as comunidades locais em redor do Lago Sofia para melhorar as práticas agrícolas e de pesca para que sejam mais produtivas sem terem tantos impactos no ambiente.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.