três papagaios-do-mar pousados
Papagaios-do-mar (Fratercula Arctica). Foto: Hallmers/Wiki Commons

Uma em cada oito espécies de aves estão em risco de extinção

Uma em cada oito espécies de aves em todo o mundo estão ameaçadas de extinção, devido em grande parte à modernização da agricultura. As conclusões são do relatório O Estado das Aves no Mundo, que ainda assim aponta sinais de esperança – incluindo um caso português.

 

“A situação que os dados revelam é alarmante. De acordo com os dados de 2017, 1.469 espécies de aves (13% do total, ou uma em cada oito) estão globalmente ameaçadas de extinção”, indica o novo documento produzido pela BirdLife Internacional, que actualiza a informação compilada sobre o grupo de espécies mais estudado do mundo.

Uma das maiores preocupações: “Há cada vez mais espécies distribuídas mundialmente e que são familiares em risco de extinção”, avisa o relatório, “muitas vezes devido à sobre-exploração e destruição de habitats”.

A rola-brava (Streptopelia turtur), por exemplo, que já foi “uma ave familiar migratória para a Europa, Ásia Central e Médio Oriente, a partir da zona do Sahel, em África.” Devido à perda de habitat e à caça, esta espécie está agora a decrescer na sua área de distribuição, especialmente na Europa Ocidental, e passou recentemente a ser considerada Vulnerável.

 

uma rola-brava
Rola-brava (Streptopelia turtur). Foto: Kev Chapman/Wiki Commons

 

Portugal não é excepção. Nos últimos anos, os ambientalistas portugueses têm pedido continuamente que se acabe com a caça à rola-brava, por esta estar “a desaparecer a um ritmo galopante em Portugal e na Europa”.

Outras aves como a escrevedeira-aureolada (Emberiza aureola) e o papagaio-cinzento (Psittacus erithacus) enfrentam um grave declínio devido à sobre-exploração. E quanto à coruja-das-neves e a aves marinhas como o papagaio-do-mar (Fratercula arctica) e a gaivota-tridáctila (Rissa tridactyla), já estão a sofrer efeitos das alterações climáticas – e da sobre-pesca, nos dois últimos casos.

 

um papagaio-cinzento
Papagaio-cinzento (Psittacus erithacus). Foto: Fernando Torres Campos/Wiki Commons

 

“De cada vez que realizamos esta avaliação vemos um ligeiro aumento das espécies em risco de extinção – a situação está a deteriorar-se e as tendências estão a intensificar-se”, avisou o responsável pela produção do relatório, Tris Allinson, em declarações ao The Guardian.

Quais são as maiores ameaças para as aves em risco? Para 74% destas 1.469 espécies, a modernização da agricultura e a intensificação agrícola constituem o maior desafio. Seguem-se o corte de árvores (ameaça para 50%); as espécies invasoras, em especial mamíferos (39%); a caça e armadilhas (35%), as alterações climáticas (33%) e a construção de residências e edifícios de comércio (28%).

 

Sinais de esperança

Apesar de tudo, ainda há sinais de esperança, adianta o documento divulgado pela BirdLife Internacional. No último século, 25 espécies de aves conseguiram recuperar da quase extinção, uma vez que estavam classificadas como estando Criticamente em Perigo, devido a projectos de conservação.

 

um priolo pousado num ramo
Priolo (Pyrrhula murina). Foto: Putney Mark/Wiki Commons

 

Entre estas histórias de sucesso, é apontado um caso português: o priolo (Pyrrhula murina), uma ave endémica dos Açores que nos últimos anos tem sido alvo de projectos de conservação apoiados pela União Europeia e coordenados pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), parceira portuguesa da BirdLife International. O mais recente foi o projecto LIFE Terras do Priolo, em curso até 2019.

“Tudo é reversível porque tudo é infelizmente resultado de acções humanas”, disse também Tris Allinson. “Uma coisa é trabalhar no último minuto com uma espécie em particular e arrastá-la para fora do precipício, mas o que precisamos são soluções em larga escala para lidar com a intensificação e com a expansão agrícolas, que são a maior causa da extinção das aves.”

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Recorde o número de espécies ameaçadas em todo o mundo, de acordo com a última actualização da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.