tubarão-anequim de perfil, dentro da água
Tubarão anequim fotografado ao largo dos Açores. Foto: Patrick Doll/Wiki Commons

União Europeia e EUA travam planos para proteger o tubarão mais rápido do mundo

As populações de tubarão mako no Atlântico Norte estão a declinar rapidamente, em especial devido à pesca por países como Espanha e Portugal.

As organizações ambientalistas ligadas à conservação dos tubarões e raias no Atlântico Norte estão indignadas com o bloqueio da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos (EUA) às negociações sobre o futuro dos tubarões mako.

“A UE e os EUA, apesar de promoverem há muito tempo a conservação de tubarões baseada em factos científicos, mais uma vez foram os principais obstáculos à protecção que é urgentemente necessária para os tubarões mako”, acusa a coligação Shark League.

Em causa estão as negociações no âmbito da ICCAT – Comissão Internacional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico, uma organização pesqueira intergovernamental responsável pela conservação de atuns e espécies semelhantes no Oceano Atlântico.

Os tubarões mako, também conhecidos por tubarões-anequim, dividem-se em duas espécies: tubarão mako de barbatana curta (Isurus oxyrinchus) e tubarão mako de barbatana longa (Isurus paucus). São os mais rápidos do mundo, podendo atingir velocidades de 70 quilómetros por hora.

Tanto uns como outros são ameaçados pela sobrepesca mundial, pelo que em 2019 foram classificados Em Perigo de extinção, mas os tubarões-mako-de-barbatana-curta estão especialmente vulneráveis no Atlântico Norte. Os cientistas avisam que, mesmo se a pesca for totalmente proibida, essas populações de mako poderão levar cinco décadas para recuperar.

Estes tubarões são muitas vezes alvos de captura acidental por embarcações que estão a pescar outras espécies, mas são também perseguidos devido às barbatanas e à carne e ainda por desporto, devido à velocidade que atingem.

Em Agosto de 2019, os Estados que fazem parte da CITES – Convenção para o Comércio Internacional de Espécies em Perigo acordaram que o comércio internacional de makos passaria a ser regulado. Mas essa aparente vitória não se traduziu em medidas efectivas nas negociações sobre pescas no Atlântico Norte, no final desse ano.

Finalmente, na última semana, durante a nova ronda de negociações da ICCAT, Canadá, Senegal e Reino Unido avançaram com uma nova proposta para a proibição total da retenção a bordo de tubarões mako. No entanto, UE e EUA opuseram-se, argumentando que essa medida não impediria a pesca acidental, e avançaram com propostas alternativas.

Face ao impasse, a decisão sobre os tubarões mako esteve quase a ser novamente adiada até meados de 2021, mas espera-se ainda que haja avanços nas próximas semanas.

Quem pesca mais?

“O esgotamento [das populações] de mako no Atlântico Norte mantém-se como uma das crises de conservação de tubarões mais urgentes no mundo, mas ainda assim a UE e os EUA colocam os seus interesses pesqueiros de curto prazo acima de tudo o resto”, criticou Ali Hood, director de conservação da Shark Trust.

“A obstrução repetida de protecções vitais e baseadas na ciência permite que os países que mais pescam tubarões mako – Espanha, Marrocos e Portugal – continuem a pescar esses tubarões em perigo, essencialmente sem limites, guiando populações valiosas para o colapso.”

De acordo com dados da Shark League, em 2019 os maiores responsáveis pela pesca de makos de barbatana curta no Atlântico Norte foram, por esta ordem, a UE (Espanha e Portugal), Marrocos, Canadá, Estados Unidos, Senegal, Venezuela e Japão. As embarcações europeias corresponderam a 63% das capturas registadas.

Os tubarões mako são especialmente vulneráveis à sobrepesca porque as fêmeas só atingem a maturidade sexual entre os 18 e 21 anos de idade. A juntar a isso, o período de gestação é longo – dura entre 15 e 18 meses – e a espécie só se costuma reproduzir de três em três anos.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.